quarta-feira, 23 de junho de 2010
"Uma Mulher de Atitude e Três Répteis", por Evandro Mesquita
Este filme de 1967 consegue mostrar a beleza do interior da Inglaterra assim como da protagonista, Bathsheba, interpretada por Julie Christie. Esta jovem, que herda uma fazenda do pai, é disputada por dois interioranos: Gabriel (Alan Bates), William Boldwood (Peter Finch) e o soldado – Frank Troy (Terence Stamp) que adora jogar seu charme pra cima das mulheres conquistando-as de maneira hipnótica. A cinematografia, a música e a atuação criam uma expectativa quanto ao final, especialmente, de com que candidato nossa mocinha ficará.
O filme começa com uma trágica seqüência onde o cachorro do Gabriel (sem trocadilhos) leva seu rebanho até o penhasco de onde caem para a morte. Cena chocante que inclusive me deu um nó na garganta, não arrancando minhas lágrimas por pouco. Este evento não apenas o leva à falência como também o faz abandonar o lugar.
Ora na penúria ou de corações amargurados, todos os personagens sofrem de alguma forma. Contudo, mesmo num poutpourri de emoções e numa sociedade onde os direitos das mulheres eram muito restritos, Bathsheba parecer mostrar um espírito livre. Talvez este item, além da beleza é claro, fosse o fator determinante que colocava os homens, às vezes de feições brutas, a seus pés. Numa época de mil oitocentos e algumas bolinhas as mulheres inglesas nunca se colocavam numa posição de comando, muito pelo contrário, eram subservientes e “beijavam os pés” de seus homens, pois não deviam beijar outras coisas devido à repressão e falta de liberdade. Com Bathsheba a coisa era diferente: ela administrava a fazenda, contratava trabalhadores, vendia a produção, etc.
Entretanto, o amor por Frank, devolve, de certa forma a fragilidade da mulher Bathsheba, antes tão segura e agora totalmente à mercê do charme deste militar. Desta forma, o feminismo apresentado em boa parte da estória converte-se num convencional e conveniente machismo onde quem manda é o homem.
O diretor John Schlesinger coloca estes personagens num vilarejo ficcional localizado no sul da Inglaterra. Este lugar é como se fosse um pequeno paraíso longe do burburinho da cidade grande (“Far from madding crowd”). Entretanto, o burburinho chega até lá na forma de ciúme, crueldade e assassinato através dos vários eventos que permeiam a trama, porém vai embora ao final, quando as coisas se estabilizam e “Maria” termina com “José”, não deixando dúvidas da mistura água com açúcar tão característico do gênero.
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