quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Inverno de sangue em Veneza" (Don't Loook Now), de Nicholas Roeg, por Sofia Donovan



ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS...


Inverno de Sangue em Veneza é um filme assustadoramente estranho. Na primeira sequência a filhinha de John e Laura Baxter morre afogada. Agora eles estão em Veneza, tentando se recuperar do trauma. John é restaurador e está trabalhando em uma igreja, seu outro filhinho, que viu a morte da irmã, está internado em um colégio na Inglaterra e sua esposa inda não conseguiu sair da depressão que sucedeu a tragédia. A questão é que John parece possuir uma espécie de clarividência. O filme está mergulhado em uma atmosfera sombria, sobrenatural.

O casal acaba conhecendo duas velhinhas e uma delas possui uma ligação com o “além”. John, que tenta não acreditar nem nas experiências que ele mesmo vivencia, continua cético, já sua esposa “mergulha de cabeça” na idéia da filha ainda existir, uma fuga conveniente. Coincidentemente ocorre uma série de assassinatos na cidade.
O vermelho, cor da capa plastificada que a filha na hora de sua morte, da bolhinha que a fez entrar na água, do sangue, é recorrente. Há também muitos closes, e o uso de câmera na mão, comuns em suspenses. A trilha sonora do filme quase sempre é tensa e soturna, acompanhando o conceito do filme e, digamos, no mínimo curiosa, na interessante montagem que alterna cenas de sexo entre o casal e eles se vestindo.

Entretanto o que é realmente estranho nesse filme são os closes em objetos e ações que interpretamos como “avisos”, mas que na verdade não possuem importância narrativa ou os momentos em que a música nos passa a sensação de que algo vai acontecer, mas nada acontece e essa tensão nem faz sentido no contexto. Todos os personagens parecem tramar contra os principais, tudo parece premeditado e ao mesmo tempo estranho e confuso. Essas características somadas à premonições, falta de figurantes, uma névoa quase incessante,o tempo nublado e frio, as aparições das irmãs, acabam nos deixando tensos. O filme é bem sucedido em seus objetivos (tive que atravessar o corredor da minha casa correndo depois de vê-lo). Nada é explicado, é uma experiência sensorial.

Há certo momento do filme em que eles se perdem em vielas vazias de Veneza e a atmosfera se torna tão sombria que quando John reencontra a cidade (que não é muito menos assustadora) comenta “achei o mundo real”.

A velhinha que está cometendo os assassinatos e que acaba matando John no final veste uma capa vermelha igual à da filha deles, tudo reflete a situação do casal. Com certeza “Thriller psicológico”, como alguns definem o filme, é o termo perfeito.

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