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sábado, 14 de fevereiro de 2015

"O mensageiro", por Hugo Nogueira



Vítima do macarthismo nos Estados Unidos, impedido de trabalhar em Hollywood, Joseph Losey refugia-se no Europa. Entre os filmes realizados nessa fase europeia, encontramos o “O Mensageiro”, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1970. Ambientado numa propriedade rural de uma família aristocrática do Reino Unido, o filme traz a história de um garoto, Leo Colston (Dominic Guard), convidado passar suas férias de verão com seu amigo.

A narrativa desenvolve-se primordialmente na infância de Leo, alternando com cenas dele adulto. Isso não fica claro inicialmente. Vemos apenas a silhueta de um adulto em cenas que a princípio não conversam com a trama principal. Mais tarde é evidenciado que se trata de Leo mais velho (Michael Redgrave) a visitar Lady Trimingham, também envelhecida (Julie Christie). Ou seja, apenas ao final do filme descobrimos que ele se passa todo num flash back de reminiscências.

Ao observar as memórias de Leo, narradas na tela, acompanhamos o garoto num ambiente quase hostil. No desenvolvimento do filme, vemos o garoto envolver-se num conflito amoroso entre a Lady Trimingham, Ted (Alan Bates) e Hugh Trimingham (Edward Fox). Leo está de férias nessa casa de campo da família de seu amigo e se vê deslocado socialmente. Pela sucessão de eventos, como quando ele é questionado quanto às suas roupas serem inadequadas para o verão, vemos certo desdém de classe. Rodeado dessa nobreza esnobe, o garoto passa quase inocente, por sucessivas cenas de constrangimento.

Percebemos que ele era quase que usado como motivo de divertimento entre seus anfitriões. Quando seu amigo fica doente, Leo, passa a vagar pelas pelos campos nos arredores da casa. Assim, ele vai parar na fazenda de Ted, vizinho mais pobre  que possui uma relação secreta com a Lady Trimingham. Dessa forma, ele acaba se tornando o mensageiro entre os dois, levando e trazendo cartas secretas. Enredado e de certa forma seduzido pela personagem de Julie Christie, o garoto torna-se joguete nessa trama amorosa. Envolvendo-se nos conflitos que permeiam a família que o acolhe. Dessa forma, através dos olhos do garoto, acabamos por ver um desenho dessa sociedade aristocrática com seus mesquinhos valores.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Fahrenheit 451, por Kátia Martins



Em um futuro indeterminado, num Estado totalitário, os "bombeiros" têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois para esta sociedade a literatura levaria à infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner) começa a questionar tal raciocínio quando conhece uma mulher que o incentiva a ler os livros antes de queimá-los.

Este é o enredo de Fahrenheit 451 (1966 – François Truffaut); o título se refere à temperatura em que os livros são queimados. E para quem assiste a este filme sem informações prévias sobre ele, é bastante surpreendente ver já na sua seqüência inicial, os bombeiros entrando em ação não para apagar algum incêndio, mas sim para provocar um fogo em alguns livros apreendidos. O protagonista do filme e um dos bombeiros, Montag (Orkar Werner), fazia seu trabalho sem nenhum questionamento, até conhecer Clarisse (Julie Christie), uma professora de primário, que faz perguntas sobre sua profissão e o faz refletir sobre ela, apresentando-lhe também a possibilidade de ler escondido os livros com os quais entra em contato através do seu serviço. A partir disso, Montag fica curioso para saber o conteúdo dos livros e passa a roubá-los das casas em que vai apreender os livros.

Fahrenheit 451, na verdade, é uma crítica contundente sobre o totalitarismo, a ausência de prazer e liberdade intelectual e a alienação das pessoas pela sociedade, alienação exercida especialmente através de meios de comunicação como a televisão. Isso fica bem claro no filme através da direção de arte, que dá bastante atenção aos objetos da casa de Montag, que tem uma presença massiva de aparelhos de TV por toda a parte, além de uma enorme TV na sala principal, muito parecida com as televisões existentes hoje em dia (bem grande e pregada na parede); ou no “jornal” que Montag apanha na entrada da casa, cheio de imagens, sem palavra alguma. A direção de arte do filme, aliás, tem um cuidado especial, já que o filme é futurista, tentando projetar os objetos de um tempo futuro, como no caso da TV. Mas como não poderia deixar de ser, esses objetos são datados, como, por exemplo, o aparelho de barbear mais recente que Montag ganha de sua esposa, Linda e o formato de alguns aparelhos, como o telefone. O figurino é outro aspecto do filme que é datado, e apesar de se pretender uma projeção para o futuro, às vezes cai no velho clichê das roupas prateadas ou brilhosas dos filmes futuristas. Afinal de contas, os filmes são documentos do período de sua produção, e qualquer representação do passado ou do futuro existente em um filme está intimamente relacionada com o período em que este foi produzido.

Mas para além dessa datação, este filme, em se tratando de uma crítica a uma sociedade dominada pelo poder das imagens, paralelamente traz questionamentos políticos e ideológicos ainda bastante atuais.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“Fahrenheit 451”, por Mariana Fidelis



“Fahrenheit 451” é um filme de François Truffaut, lançado em 1966, adaptação do livro homônimo de Ray Bradbury de 1953. Sua trama desenrola-se no futuro, num país totalitário marcado pela censura cultural em que é proibida a posse e acesso a todo e qualquer tipo de livro. Nesse contexto os bombeiros tornam-se responsáveis por cumprir essa interdição através da caça e queima das obras literárias. Nosso personagem principal, um destes bombeiros, chama-se Guy Montag (Oskar Werner), distinto inicialmente pelo trabalho dedicado, um homem calado que apenas cumpre bem suas tarefas, digno da admiração de seus superiores, prestes a receber uma promoção. Ele é casado com Linda (Julie Christie), uma mulher que passa seus dias em casa, caracterizada pela forte influência e dominação que a televisão exerce em sua vida, basicamente uma mulher alienada que reproduz os valores passados através da programação televisiva, sem questioná-los.

Os argumentos utilizados para justificar a proibição aos livros são revelados na fala do Capitão à Montag quando encontram uma das maiores bibliotecas prestes a ser incendiada: 1) os livros são histórias tristes que causam infelicidade àqueles que as lêem, e tudo isso desnecessariamente, pois são inventadas, versando sobre pessoas e situações que nunca existiram; 2) os livros trazem de certa forma desigualdade entre os homens, pois instauram um universo de vaidades e arrogância entre eles. Dessa forma os livros são perseguidos, e devem ser banidos da sociedade. A ameaça trazida pelo conteúdo literário à manutenção do sistema governamental totalitário é transferida, sem justificativa e razão, para seu material, isto é, o objeto-livro, como nos mostra a cena em que Linda ao descobrir um livro que cai do seu esconderijo joga-o para longe, num gesto de medo e nojo.

O ponto de inflexão da trama é o encontro de Montag com Clarisse (Julie Christie), jovem que instaura um espírito de indagação, reflexão, e curiosidade no bombeiro, ao perguntar se ele alguma vez já havia lido um daqueles objetos que queima. A partir daí ele passa a ler escondido os livros que furta do trabalho.

Ao entrar em contato com o universo literário, descobre algo que havia se perdido na sua vida, considerada vazia, como se os livros resgatassem sentimentos e uma noção de humanidade até então esquecidos. A partir de presenciar a cena de uma mulher que prefere morrer queimada entre seus livros, Montag depara-se com a contraposição entre a paixão e os sentimentos envolvidos no universo literário e o vazio e a frieza da normalidade e mediocridade cotidiana. Essa contraposição transparece por exemplo quando ele lê o trecho de um livro para sua mulher e amigas, acusando-as de serem zumbis (“Vocês não vivem, apenas matam o tempo!”), ou quando traz a metáfora de que “por trás de cada livro há uma pessoa”, resgatando o sentido simbólico dos livros. Quer dizer, Montag reconhece nos livros uma humanidade que não encontra nas pessoas ao seu redor.

O contato com os livros lhe rende uma mudança de comportamento não só no trabalho, mas principalmente em casa, algo que é reprovado por sua mulher, que acaba por denunciá-lo para a própria corporação para a qual trabalha. Tendo sido descoberto por seus colegas de trabalho, Montag é obrigado a queimar seus livros em sua própria casa, salvando apenas um dentro da roupa, e acaba por assassinar seu chefe, o capitão da corporação, também queimado. Dessa forma ele torna-se um foragido procurado pela polícia, mas consegue fugir graças à referência dada pela sua amiga a jovem Clarisse de um grupo de pessoas admiradoras da literatura que moram nas florestas, fora das garras do estado.

Incomoda-me um pouco no filme essa mudança radical de atitude de nosso protagonista que passa de funcionário exemplar à fora da lei. Revela-me um pouco de superficialidade na construção da personalidade do personagem, que não possui muita consistência, mudando sua atitude de um lado para outro, sem um motivo aparente muito forte (a não ser pela conversa uma vez apenas com Clarisse). De forma que, se é tolerada a passagem de bombeiro exemplar à admirador da literatura de uma hora para outra, por que não seria aceitável por exemplo que sua mulher Linda o apoiasse ao invés de denunciá-lo? Isso para mim não fez muito sentido.

A questão do controle social pelo sistema de comunicação estatal através da presença e influência da televisão na vida das pessoas, tácita durante todo o filme (por exemplo no comentário da vizinha de Clarisse, que chama atenção para o fato de todas as casas possuírem antena parabólica), revela-se finalmente na manipulação de informações quanto ao paradeiro de Montag quando, após de chegar a essa comunidade na floresta, assiste a encenação de sua própria morte na televisão. Engraçado que essa manipulação e controle sociais sejam tão claramente revelados apenas para aqueles que já estão do lado de fora do sistema.

Nossa trama se desenrola, portanto, no contexto de uma sociedade totalitária que exerce seu poder de controle social institucionalmente através da polícia e dos bombeiros, e também culturalmente através do forte sistema televisivo de comunicação. Esse cenário faz parte de uma tendência literária dos anos 50 e 60, época de uma sociedade apreensiva marcada pelo totalitarismo do mundo pós-guerra, conhecida como “distopia” – ao lado por exemplo de “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa tendência pode ser caracterizada pelo pessimismo quanto ao futuro, geralmente marcado pela presença de um estado totalitário e opressivo, baseado no controle e na manipulação social exercida pelas tecnologias sobre a vida das pessoas, e justificado no motivo de uma “ameaça constante” que deve ser combatida (seja a ameaça de outros países combatida com guerras, seja, no caso do nosso filme, na ameaça que os livros trazem para a igualdade e felicidade das pessoas).


Quanto ao formato do filme, não vejo muitas aproximações com as inovações trazidas pela Nouvelle Vague, como por exemplo a estrutura fragmentada de narração. Apesar de Truffaut ser um dos diretores mas representativos do movimento, esse filme é um pouco diferenciado dos outros talvez por ser uma ficção cientifica, ou por ter sido gravado fora da França e em inglês.

Um dos pontos que podemos destacar de proximidade em relação à outras obras da Nouvelle Vague é a questão da autorreferência, não só na dupla atuação da atriz Julie Christie, como Linda e Clarisse (o que enfatiza ainda mais a contraposição em relação a personalidade das duas mulheres), mas também pelo enquadramento dado nos livros nas cenas de incêndio, quando surge a oportunidade de fazer referencia às influências do movimento, como Sartre, os Cahiers du Cinema, ou o próprio Ray Bradbury, autor do livro que dá origem ao filme.

Do ponto de vista estético, a construção dos cenários da sociedade futurista é marcada por cores fortes, embora possamos dizer que a ficção cientifica não é o apelo mais forte do filme. A não ser pelo metrô suspenso (o que deve ter custado caro para a produção), o modelo das televisões (finas, de tela grande, pregadas na parede, com opções de interação), e pela (tosca) cena dos policiais voadores já quase no final do filme (durante a perseguição à Montag), acredito que as referências estéticas sejam muito mais atuais que futuristas, como a arquitetura das casas e as roupas das mulheres.

A afinidade com a Nouvelle Vague e que o filme tornou extremamente atual, apesar da moldura futurista, deve-se principalmente à temática. A questão da censura, da luta contra a indústria cultural e a sociedade do consumo estão presentes no filme, através do argumento de salvação da cultura humana pelos livros, sem os quais “todo o conhecimento humano desapareceria”.

É a partir daí que analisamos o desfecho da história, na relação entre cultura e memória. A literatura, e a tradição escrita em geral, surge como uma tentativa de perenizar a(s) história(s) humana(s) no tempo, porém, tendo em vista a proibição em relação aos livros, não resta outra alternativa a não ser um retorno à oralidade. Numa volta à tradição de civilizações antigas que repassavam suas historias através do falar/narrar/contar, a comunidade das “pessoas-livro” resiste pelo esforço de uma forma diferente de relação com os conteúdos da cultura, sem a mediação dos livros, mas apenas através da memória e da oralidade.

A comunidade das “pessoas-livro” isolada na floresta revela a arquitetura da sociedade totalitária e opressiva da cidade, que na interdição do acesso à cultura, do acesso aos livros, pretende o sufocamento de qualquer possibilidade de crítica e oposição ao sistema. Resta apenas a possibilidade de se localizar completamente fora dessa sociedade, viver como outsiders, que recuam e recusam o confronto direto com a autoridade. Preferem a fuga, e ficam a espera do dia em que possam reproduzir aqueles textos que memorizaram fielmente para que sejam impressos de novo. Por isso, no comentário ao filme, Truffaut destaca o caráter do elogio à astúcia que perpassa o filme:

“Não pretendi transmitir qualquer mensagem, mas apenas mostrar uma forma de luta contra a autoridade arbitrária. [...] Sou contra a violência e a intolerância porque elas significam confronto. [...] Se quero alguma coisa, o meu desejo é tão intenso que não perco tempo com discussões. [...] Para mim, quem substitui a violência é a fuga, não a fuga do essencial, mas a fuga para se obter o essencial. Creio ter ilustrado isso em ´Fahrenheit 451´. É um aspecto do filme que escapou a todo mundo e me parece importante: a apologia da astúcia. ´Ah, então os livros estão proibidos? Então, muito bem, vamos aprendê-los de cor´. É o supra-sumo da astúcia.” (Truffaut, 1966, disponível em: )

A título de opinião pessoal sobre a obra, “Fahrenheit 451” é por fim um filme que recomendo não só pelo seu caráter político, mas principalmente por seu caráter poético na representação de um amor à literatura e à cultura do livro impresso, que perde cada vez mais seu espaço para outras formas de divulgação, em especial no meio digital.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

“Fahrenheit 451”, por Bruna Belo




Uma voz em off narra os créditos de abertura, enquanto é mostrada uma sequência de imagens, em diferentes cores e ângulos, de diversas antenas de televisão o que nos remete a câmeras de vigilância. É assim que se inicia o filme Fahrenheit 451, do diretor francês François Truffaut.

Talvez por ser o seu primeiro filme em língua inglesa, ou por ter sido produzido na época em que Truffaut estava organizando o seu livro de entrevistas com Hitchcock, de quem era fã assumido, Fahrenheit tem algumas referências a este. Entre elas, a trilha sonora marcante, composta por Bernard Herrman – parceiro de Hitchcock em diversos filmes –, e as cenas de ação, nas quais Truffaut peca, não conseguindo atingir a tensão necessária. Justamente por se desviar do que ele estava acostumado a fazer, muitos críticos dizem que este é um filme menor, que não atinge o nível de genialidade do diretor.

Baseado no livro homônimo de Ray Bradbury, é ambientado em uma sociedade totalitária que proíbe qualquer tipo de leitura por considerá-la causadora de infelicidade. Os livros devem ser queimados, todos! Ironicamente, os responsáveis pela destruição destes são os bombeiros – o título vem daí, 451 é a temperatura em fahrenheit em que o papel entra em combustão.

O foco da narrativa é a transformação do bombeiro Guy Montag (Oskar Werner) de destruidor à amante dos livros. Ele tem uma vida normal – porém vazia, como todas as pessoas a sua volta –, um trabalho de destaque e um casamento estável com Linda (Julie Christie). Sua mulher é um perfeito exemplo da população desta sociedade, ela é fútil e viciada em pílulas e na televisão interativa.

Além de Linda, Julie Christie interpreta outra jovem também diretamente ligada ao protagonista, Clarisse. Enquanto a primeira é alienada e dominada pelo Estado, a segunda é consciente e intelectualmente livre. Uma é o inverso da outra. Como se fossem histórias paralelas, é mostrado os dois possíveis caminhos que uma pessoa (ou sociedade) pode percorrer, optando ou não pela cultura e liberdade intelectual. Esse duplo papel rendeu a atriz uma indicação ao BAFTA, em 1967.

A vida de Montag começa a mudar quando ele conhece Clarisse em um encontro casual no metrô. Através de alguns questionamentos, ela desperta nele a curiosidade sobre os objetos proibidos, a partir daí, ele começa a roubar e ler alguns dos livros que deveria queimar. Com as leituras, ele muda, passa a desacreditar totalmente no sistema

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Inverno de sangue em Veneza" (Don't Loook Now), de Nicholas Roeg, por Sofia Donovan



ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS...


Inverno de Sangue em Veneza é um filme assustadoramente estranho. Na primeira sequência a filhinha de John e Laura Baxter morre afogada. Agora eles estão em Veneza, tentando se recuperar do trauma. John é restaurador e está trabalhando em uma igreja, seu outro filhinho, que viu a morte da irmã, está internado em um colégio na Inglaterra e sua esposa inda não conseguiu sair da depressão que sucedeu a tragédia. A questão é que John parece possuir uma espécie de clarividência. O filme está mergulhado em uma atmosfera sombria, sobrenatural.

O casal acaba conhecendo duas velhinhas e uma delas possui uma ligação com o “além”. John, que tenta não acreditar nem nas experiências que ele mesmo vivencia, continua cético, já sua esposa “mergulha de cabeça” na idéia da filha ainda existir, uma fuga conveniente. Coincidentemente ocorre uma série de assassinatos na cidade.
O vermelho, cor da capa plastificada que a filha na hora de sua morte, da bolhinha que a fez entrar na água, do sangue, é recorrente. Há também muitos closes, e o uso de câmera na mão, comuns em suspenses. A trilha sonora do filme quase sempre é tensa e soturna, acompanhando o conceito do filme e, digamos, no mínimo curiosa, na interessante montagem que alterna cenas de sexo entre o casal e eles se vestindo.

Entretanto o que é realmente estranho nesse filme são os closes em objetos e ações que interpretamos como “avisos”, mas que na verdade não possuem importância narrativa ou os momentos em que a música nos passa a sensação de que algo vai acontecer, mas nada acontece e essa tensão nem faz sentido no contexto. Todos os personagens parecem tramar contra os principais, tudo parece premeditado e ao mesmo tempo estranho e confuso. Essas características somadas à premonições, falta de figurantes, uma névoa quase incessante,o tempo nublado e frio, as aparições das irmãs, acabam nos deixando tensos. O filme é bem sucedido em seus objetivos (tive que atravessar o corredor da minha casa correndo depois de vê-lo). Nada é explicado, é uma experiência sensorial.

Há certo momento do filme em que eles se perdem em vielas vazias de Veneza e a atmosfera se torna tão sombria que quando John reencontra a cidade (que não é muito menos assustadora) comenta “achei o mundo real”.

A velhinha que está cometendo os assassinatos e que acaba matando John no final veste uma capa vermelha igual à da filha deles, tudo reflete a situação do casal. Com certeza “Thriller psicológico”, como alguns definem o filme, é o termo perfeito.

"Uma Mulher de Atitude e Três Répteis", por Evandro Mesquita




Este filme de 1967 consegue mostrar a beleza do interior da Inglaterra assim como da protagonista, Bathsheba, interpretada por Julie Christie. Esta jovem, que herda uma fazenda do pai, é disputada por dois interioranos: Gabriel (Alan Bates), William Boldwood (Peter Finch) e o soldado – Frank Troy (Terence Stamp) que adora jogar seu charme pra cima das mulheres conquistando-as de maneira hipnótica. A cinematografia, a música e a atuação criam uma expectativa quanto ao final, especialmente, de com que candidato nossa mocinha ficará.

O filme começa com uma trágica seqüência onde o cachorro do Gabriel (sem trocadilhos) leva seu rebanho até o penhasco de onde caem para a morte. Cena chocante que inclusive me deu um nó na garganta, não arrancando minhas lágrimas por pouco. Este evento não apenas o leva à falência como também o faz abandonar o lugar.

Ora na penúria ou de corações amargurados, todos os personagens sofrem de alguma forma. Contudo, mesmo num poutpourri de emoções e numa sociedade onde os direitos das mulheres eram muito restritos, Bathsheba parecer mostrar um espírito livre. Talvez este item, além da beleza é claro, fosse o fator determinante que colocava os homens, às vezes de feições brutas, a seus pés. Numa época de mil oitocentos e algumas bolinhas as mulheres inglesas nunca se colocavam numa posição de comando, muito pelo contrário, eram subservientes e “beijavam os pés” de seus homens, pois não deviam beijar outras coisas devido à repressão e falta de liberdade. Com Bathsheba a coisa era diferente: ela administrava a fazenda, contratava trabalhadores, vendia a produção, etc.

Entretanto, o amor por Frank, devolve, de certa forma a fragilidade da mulher Bathsheba, antes tão segura e agora totalmente à mercê do charme deste militar. Desta forma, o feminismo apresentado em boa parte da estória converte-se num convencional e conveniente machismo onde quem manda é o homem.

O diretor John Schlesinger coloca estes personagens num vilarejo ficcional localizado no sul da Inglaterra. Este lugar é como se fosse um pequeno paraíso longe do burburinho da cidade grande (“Far from madding crowd”). Entretanto, o burburinho chega até lá na forma de ciúme, crueldade e assassinato através dos vários eventos que permeiam a trama, porém vai embora ao final, quando as coisas se estabilizam e “Maria” termina com “José”, não deixando dúvidas da mistura água com açúcar tão característico do gênero.