quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Velvet Goldmine", por Bruna Belo


VELVET GOLDMINE

Muita purpurina, maquiagem, plataformas e roupas extravagantes – assim é o glam-rock. Gênero musical, surgido na Inglaterra em 1969, com influências psicodélicas, que explora elementos cênicos, luzes e efeitos especiais no palco, além de possuir um figurino extravagante e andrógino. É nesse momento de transformação musical/cultural que o filme Velvet Goldmine, de Todd Haynes,foca. Ele tem inicio em 1984, quando o repórter Arthur Stuart (Christian Bale) é chamado para fazer uma matéria sobre o desaparecimento de Brian Slade (Jonathan Rhys-Meyers), famoso cantor da década. A história é contada a partir das entrevistas que Arthur faz com conhecidos de Slade para descobrir o seu paradeiro, nas quais são feitas revelações sobre este e Curt Wild (Ewan McGregor), outro músico famoso.

Velvet Goldmine segue a estrutura narrativa de Cidadão Kane, contando a história, através de flashbacks e com enfoque jornalístico, da ascensão e queda desse ídolo do glam-rock. Essa narrativa quebrada, misturando verdade e mentira, às vezes torna o filme um pouco confuso, porém como numa espécie de quebra-cabeças, tudo é explicado no final. O filme rebenta na tela, assim como o movimento rebentou numa Inglaterra, ainda conservadora, em meados de 1970. O espectador fica imerso na narrativa e imagens e vive intensamente esse movimento, assim como o personagem de Christian Bale, que quando jovem era fã ardoroso de Slade.

O que realmente chama atenção no filme não são o enredo ou a magnífica fotografia e direção de arte, mas sim as diversas referências que ele faz, não só a Orson Welles, mas também a Oscar Wilde e diversos ícones do rock. Essas alusões começam desde o título, Velvet Goldmine, tirado de uma canção homônima de David Bowie, além disso, Brian Slade e seu personagem, Maxwell Demon, são uma referência mais que direta a este e sua glam persona, Ziggy Stardust – as semelhanças vão desde as músicas, roupas, atitudes até a “morte” dos seus personagens no final da turnê. Curt Wild é uma junção de Iggy Pop e Lou Reed e Mandy (Toni Collette) é a própria Angela Bowie.

Rhys-Meyers e McGregor estão impecáveis nos seus papéis, o que torna praticamente impossível não confundir realidade com ficção. Se apoiando bastante na postura andrógina do movimento e sua influencia na cabeça dos jovens, o filme enfoca supostas relações homossexuais entre Bowie e Iggy Pop.

A trilha sonora, como não poderia deixar de ser, é um show à parte. Apesar de não ter nenhuma música de David Bowie, pois este não concedeu seus direitos autorais ao filme, diversas bandas e cantores da época ou diretamente influenciados participam desta, como Lou Reed, T.Rex, membros do The Stooges, Roxy Music e Placebo (que também aparece tocando). Além disso, foram especialmente criadas para o filme as bandas Venus in Furs, que tocava com Brian Slade, e Wylde Rattz, que acompanhava Curt Wild. Uma curiosidade a mais sobre o filme é que Ewan McGregor realmente cantou todas as canções interpretadas pelo seu personagem, enquanto Jonathan Rhys-Meyers canta apenas Baby’s On Fire, as outras são dubladas por Thom Yorke, vocalista do Radiohead.

Velvet Goldmine é um filme cheio de significados e que aborda temas como sexualidade, fama, busca de identidade e personalidade. Para isso Todd Haynes criou um universo decadente, de experimentação sexual, imerso em canções contagiantes, muita maquiagem e glitter. Os cenários, figurino e fotografia, juntamente com as músicas e atuações irrepreensíveis, transportam o espectador para a Inglaterra da década de 70. Foi indicado ao Oscar de melhor figurino, em 1999, e recebeu um prêmio especial no Festival de Cannes por sua contribuição artística ao cinema.

É uma obra indispensável para os fãs do glam-rock, agindo de forma quase documental para os que não viveram esse movimento e nostálgica pra os que estavam lá. Porém, talvez não cause o mesmo impacto nos que não gostam ou conhecem esse gênero, pois não será possível perceber as dezenas de referências musicais que permeiam o filme, deixando-o assim, em algumas partes, sem sentido. Mas, olhando por outro ângulo, ele também pode servir como forma de introdução ao gênero, como indica a mensagem logo no início do filme: “Embora o que você está prestes a ver seja uma obra de ficção, esta deve ser assistida no volume máximo”.

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