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sábado, 25 de setembro de 2010

Bande à part, por Lucas Simões


Lucas vê "Bande à part".
Lucas destrói o teclado.
Anna Karina anda de bicicleta.
Lucas perde o foco.
Lucas fica "à bout de souffle".
http://www.youtube.com/watch?v=YVeex4GpQP4
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sábado, 29 de maio de 2010

"Blow up: amplie, visualize e transcenda" por Lucas Simões


“Swinging London” foi o momento de exaltação dos costumes ingleses para o mundo durante a década de 60. Foi a cultura materialista regada por aparência. Foi o uso ufânico da bandeira Inglesa como representação de poder. Foram os Beatles em sua fase alienada cantando “Porque dinheiro não pode comprar o meu amor” em “Can´t buy me love”. Foi a moda artificial e supérflua alimentando o consumismo desenfreado. Foi a juventude míope e marginal às problemáticas sociais. Foi uma ideologia maquiada e excluída de propósitos consistentemente revolucionários.

Foi também o cinema de Antonioni cuspindo em toda essa nojeira formalista.

“Blow up” narra a história do respeitado fotógrafo Thomas que após revelar as fotos de um casal em um parque, suspeita da ocorrência de um assassinato. A construção do enredo com base na suposição pretende ir além dos fatos contatos para tratar subjetivamente das possíveis interpretações humanas.

A fuga de Thomas do set fotográfico em sua própria casa para um parque bucólico demonstra uma transformação nas intenções do fotógrafo em substituir a artificialidade das modelos por imagens naturalistas de um casal em romance.

Essa captura de imagens formará um semblante possivelmente imaginário em Thomas. Por que uma mulher misteriosa se demonstraria preocupada em ser fotografada com um homem no parque? Por que um rapaz desconhecido vigiava Thomas durante uma conversa com seu amigo no restaurante? A importância daquelas fotos vai se tornando cada vez mais evidente.

O fotógrafo parte para a revelação das imagens que posteriormente são ampliadas e pregadas na parede lado a lado. É possível fazer uma analogia da composição dessa cena como uma montagem construtiva. Cada imagem é um pedaço que concentra separadamente a atenção de Thomas.

O título “Blow up” deriva deste tratamento com as fotos através da ampliação. Porém, mais do que ampliar, Antonioni propõe que o espectador visualize e transcenda o óbvio. Uma mesma fotografia pode fornecer interpretações divergentes como uma paisagem pictórica, um expressionismo fotográfico ou até mesmo um crime bárbaro. Já diria Munsterberg que o filme deve existir além da película na consciência de cada pessoa.

Thomas, ao observar as fotos, enxerga uma arma em meio aos arbustos e um corpo estendido na grama, porém essas imagens talvez não fiquem evidentes para o espectador. Indícios dessa incerteza são revelados quando o fotógrafo durante um retorno ao parque consegue ver o corpo na grama, porém em outra investida, o corpo desaparece. Em um momento posterior, a mulher misteriosa é vista por Thomas observando uma vitrine, mas em seguida desaparece subitamente entre as pessoas. O crime de fato aconteceu? Aquele casal no parque realmente existe? Antonioni substitui as respostas às indagações por possibilidades. A realidade exibida pode ser onírica.

Fica claro em “Blow up” que as evidências se transformam em aparência. O suspense em torno do acontecimento no parque passa para plano de fundo. A narrativa se consolida em momentos pragmaticamente críticos e em outros subjetivamente psicológicos.

Na cena final, os mímicos se divertem jogando uma partida de tênis imaginário. Materialmente, não há bolas, raquetes ou regras. Thomas observa atentamente até que uma bola invisível paira em seus pés e ele interage não apenas devolvendo com um lançamento, mas indo além e escutando o próprio som imaginário das rebatidas entre as raquetes. A ficção pode assim ser perfeita em um mundo imperfeito.

De maneira superficial “Blow up” é uma simples exposição do “Swinging London”. Entretanto, a crítica ao período inglês é incorporada de maneira subjetiva nas entrelinhas. Paralelamente à narrativa, existe um tratamento sarcástico com que Antonioni explicita a sociedade banal inglesa. As mulheres são vistas como meros manequins inexpressivos e são hostilizadas constantemente pelo fotógrafo. Durante o show da banda Yardbirds, a contemplação por um público robótico demonstra possivelmente uma juventude passiva, preocupada na ousadia de pegar um pedaço da guitarra quebrada para depois descartá-lo. Em outra cena, os manifestantes contra guerra são vistos como minoria e tratados com indiferença pela população.

Para Antonioni a contestação da realidade é necessária, mesmo que camuflada através de propósitos imaginários.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"O terceiro homem" por Lucas Simões


A guerra fria é tradicionalmente conhecida pela polarização ideológica entre socialistas e capitalistas. Esse clima de incerteza entre sistemas políticos pode ser referenciado para a narrativa em “O Terceiro Homem” (Carol Reed, 1949) que apresenta personagens dúbios em uma Viena arrasada e dividida.

O longa inglês trata da história de um decadente escritor americano chamado Holly Martins (Joseph Cotten) que chega a Áustria após receber uma oferta de emprego de seu grande amigo Harry Lime (Orson Welles). Martins descobre que Lime está morto, vítima de um estranho atropelamento. Entretanto, insatisfeito com a inconsistência das versões do acidente, o escritor encarna o espírito investigativo na procura pelos fatos reais.

O filme inicia com uma narração descritiva que ambienta o espaço diegético em Viena logo após a Segunda Guerra Mundial. O contexto ambíguo do pós-guerra serve fundamentalmente como plano de fundo com algumas intervenções sutis durante o enredo, mas é a base que introduz os personagens de idoneidade questionável como Baron Kurtz, Sr. Popescu e o próprio Holly Martins.

Kurtz estava presente no momento do acidente (junto com Sr. Popescu, o Romeno) e durante uma conversa com Martins há índices notáveis, através dos próprios diálogos e close-ups em suas feições, da construção de um arquétipo misterioso. Martins ao conhecer a atriz Anna Schmidt, que foi amante de Lime, retrata seu ponto de vista suspeito em relação à figura de Kurtz. Popescu é uma figura ardilosa e demonstra ter forte poder persuasão, sabe dialogar e tenta ao máximo convencer Martins do caráter acidental da morte de Harry Lime. Já o escritor demonstra durante toda narrativa ser um personagem idôneo e justo, porém ao final resolve ajudar a polícia a capturar seu amigo Harry, denotando a perda de seus princípios morais por interesse.

O contexto do pós-guerra é explorado também através de uma cenografia peculiar. Nas cenas que mostram perseguições é possível visualizar o cenário natural de Viena na época. Prédios e carros destruídos, crateras e tijolos espalhados pelas ruas dão realidade às externas.

É destacável a intenção do diretor em reduzir o clima de tensão em algumas cenas. Evidências são encontradas, por exemplo, nos planos em que uma criança aparentemente inocente acusa Martins e outro em que um vendedor de balões insiste em vendê-los para os policiais. O próprio tom jocoso e irônico de Harry Lime contribui para suavizar o suspense. A trilha sonora, concebida por um músico de Viena chamado Antos Karas, é regular durante todo o filme. Toques de cítara (instrumento de cordas) dão ritmo a narrativa e também minimiza a tensão conferindo um caráter mais despojado ao filme.

Ao tratar da narrativa, nota-se a construção de forma linear e retórica, a cada cena uma ação se correlaciona com outra cena seguinte. Um exemplo é a parte em que Martins discute com o porteiro a respeito do acidente, um garoto é subitamente inserido no plano de forma aparentemente despretensiosa, porém mais na frente esse mesmo garoto vai ser o responsável por acusar o escritor de ter assassinado o próprio porteiro em uma cena inverossímil, e até mesmo cômica, que finaliza com o menino correndo atrás de Martins acompanhado de Anna. Mais uma vez a amenização do suspense é explorada.

Outro ponto de destaque em “O terceiro homem” é a presença dos elementos de um típico “Film noir”. A começar pelos cenários fortemente influenciados pela vanguarda expressionista, apresentando um visível jogo do claro com o escuro (chiaroescuro). A cena antológica do aparecimento repentino de Harry Lime, quando seu rosto se projeta iluminado em meio às sombras das ruas de Viena, ilustra precisamente a técnica.
Personagens moralmente ambíguos também denotam alguns dos arquétipos “Noir” bem característicos. Há duas visões bem distintas em relação ao caráter de Harry Lime que é admirado por sua amante, porém recriminado pelo Major Calloway que o considera o maior golpista de Viena.

Em relação ao contexto fílmico, focam-se inicialmente as buscas de Martins por evidências que embasam as dúvidas sobre a morte de Lime. A versão do acidente aceita pela polícia vai sendo aos poucos contestada. O “terceiro homem” que dá título ao filme é a presença de um terceiro elemento no momento do atropelamento. A revelação feita pelo porteiro, testemunha-chave, contradiz a versão de Kurtz e Popescu. Posteriormente, o assassinato do porteiro amarra a narrativa policial e confirma as suspeitas de Martins.

O clímax do enredo é atingido no aparecimento repentino do suposto falecido Harry Lime. De forma magistral, o personagem interpretado por Orson Welles rouba atenções em uma cena até hoje marcada na história do cinema. Bastaram poucos minutos para Welles demonstrar todo seu talento.

Através de uma composição maniqueísta, o filme finaliza com a máxima em que o bem vence o mal. O “bondoso” escritor Holly Martins mata com tiros o “adulterador de penicilina” Harry Lime. Destaque para a cena final, após o verdadeiro enterro de Lime, em que mostra Martins aguardando Anna que caminha no centro. Realizada em um plano longo e contínuo que oferece margem para múltiplas interpretações conclusivas.