domingo, 16 de novembro de 2008

"Estranhos no paraíso" por Rafael Acioly




Estranhos no Paraíso - 1984 (Stranger Than Paradise EUA / Alemanha) de Jim Jarmusch figura o caminho do Velho para o Novo Mundo: um problema de migração comum no início do século XX que levavam as pessoas para o além-mar em busca do paraíso. Peculiar, portanto, seria pensar esta lógica dentro de uma relação tríade com suas singularidades sobre os esteios daquela questão macro. Fazendo uso de uma linguagem singela, Jim Jarmusch propõe aos espectadores ir conhecendo algo possível de ser visto, até mesmo sem cores.
O cenário desta película é Nova York ou o Novo Mundo – a primeira das três partes do filme. Na verdade, uma Nova York suburbana, suja, habitada por operários e por parte da escória social desocupada do oficio dos operários preocupada em ganhar a vida no mundo da jogatina. Tal realidade, contudo, não cabe uma compreensão moralista de Jim Jarmusch, mas sim, para usar um discurso jocoso do que seria o paraíso-novo. É aqui que a jovem húngara Eva vai passar os seus primeiros dez dias no Novo Mundo.



Ao chegar ao Novo Mundo Eva, vai morar com o seu primo Béla, também húngaro, mas que se declara assimilado pelos hábitos americanos, como podemos ver na sua fala: “é assim que se come na América. Tenho a minha carne, tenho as minhas batatas, tenho os meus legumes, tenho as minhas sobremesas e nem preciso lavar as louças” fazendo claras menções aos hábitos liberalistas. E por já se considerar America, Bela faz questão de ser chamado de Willie. Willie levava uma vida pacata, sem seriedade cujos segredos serão revelados durante o convívio com sua prima. Assim como o seu apartamento, que de início mais parece um quarto com apenas uma cama, aos poucos uma interessante fotografia vai revelando que naquele pequeno quarto cabem duas camas. Mais adiante percebemos que não se trata de um quarto, pois há uma cozinha com mesa, armários e alguns eletros domésticos e assim, como nós espectadores nos surpreendemos com o espaço, Eva vai fazendo mudar a vida do seu primo. Abrindo as coisas, como um armário que apenas o dono sabe fechá-lo, ela vai conhecendo seu primo Willie e percebe que há semelhanças entre eles além do parentesco e da naturalidade.


Eddie, amigo de Willie, é o terceiro personagem da tríade. Figura uma ingenuidade bastante passiva e fiel a Willie. Os três irão à busca do verdadeiro paraíso. Para Eva, o paraíso está em poder conquistar algo que podemos deduzi ter-lhe sido prometido quando estivesse no “Novo Mundo”: talvez melhores condições de vida, algum emprego. Contudo, a sua personalidade sugere-nos um espírito aventureiro que apostaria em uma viagem de férias com os seus dois amigos desocupados. Já Willie, parece ter ido à América acompanhado pelo modismo e a vontade jovial de ser um “jovem moderno novairoquino”. As impressões são aditivos nesta película que Jim Jarmusch usa de maneira curiosa nos cortes entre os longos planos. De igual maneira os intervalos entre cenas também são longos – duram mais ou menos 5 segundos – dando margem a impressões e imaginações, pois se percebe que algumas coisas aconteceram naquele intervalo, mas não exatamente o que.


Um destes intervalos figura a passagem de um ano que representa a passagem para a segunda parte da película. Neste ano passado durante a história, Eva estivera separada dos seus Amigos – Willie e Eddie – já que fazia parte da sua ida ao Novo Mundo ficar com sua tia, que residia noutra cidade. Após ganhar um bom dinheiro em jogos, Willie e Eddie decidem partir ao encontro de Eva ou o Paraíso, a terceira e última parte do filme.


Enfim o paraíso, lugar pouco frio, mais claro, próximo ao oceano. É no Paraíso aonde as coisas se tornam surpreendentes onde não deveriam existir sotaques e diferenças. Mas, tudo isto aparece combinado de maneira contingente quando uni a malandragem tipicamente “novo-mundista” e a ingenuidade pouco ambientada para compor um final inusitado, e por que não engraçado, como propõe Jim Jarmusch ao falar dos “Estranhos” no e do “Novo Mundo”.

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