segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Exótica" por Mariane Bigio



Impossível não começar falando do título: “Exótica”, que acaba por condensar o que o longa de Atom Egoyan é de fato. Mas ao contrário do que possa parecer, não há nada de óbvio nem superficial no enredo deste filme. Além de ser o nome do strip-club onde grande parte da trama toma corpo, o título se explicita nas trilhas escolhidas – geralmente de origem árabe – na decoração “tropical” do club, nos personagens – geralmente descendentes de orientais – , na loja de animais exóticos. O “ser exótico” é aqui, também, o ser além (ex) do que se vê (ótico), o que significa que é preciso mais do que apenas olhar para compreender o que Egoyan pretende. Mais que isso, o “ser exótico” é abordar temas, espaços e fatos que estão além de uma ótica hollywoodiana.

O diretor canadense é, ele mesmo, um exemplo do multiculturalismo: origem armênia, nascido no Egito, e traz esta vivência para dentro da narrativa. A não linearidade é uma característica por ele utilizada, e chega, até mesmo, a confundir-nos um pouco, sobre o por quê do comportamento dos personagens.

A Dançarina do strip-club, Christina, faz uma apresentação “vip” para o mesmo cliente (Francis), todas as noites. Francis leva e traz sua sobrinha diariamente de sua casa, e sempre lhe oferece um pagamento em dinheiro. O dono da loja de animais exóticos (Sr. Pinto) freqüenta diariamente o balé, sempre com um ingresso extra... o que esses personagens pretendem? Ou melhor, o que o diretor espera que pensemos? O que ele pretende?

Até que cenas retrospectivas (flash-back) apareçam, as dúvidas são imanentes. Aos poucos os por quês vão sendo explicados, os comportamentos, fundamentados, e tudo ganha um sentido mais claro. As vidas dos personagens estão interligadas por uma tragédia. O então Dj do strip-club, Eric, e Christina encontraram no campo o corpo sem vida da filha de Francis; antes disso Christina tinha sido Babá da menininha – é provável que a reviravolta em sua vida (de babá à striper) tenha sido causada por essa tragédia; Francis, que fiscaliza a loja de animais exóticos, aproveita-se da situação de ilegalidade da loja para fazer com que Sr. Pinto se aproxime de Christina, quando ele próprio foi afastado de Exótica, por ter tocado na dançarina....enfim tudo começa a se encaixar. Francis, na verdade, busca reviver os momentos com sua filha através da convivência com pessoas próximas a ela.

Além de tecer uma história comovente, Atom Egoyan trata de temáticas como o contrabando, a violência, o homossexualismo, entre outras, que fazem parte da realidade contemporânea. Mostra quais os rumos mais prováveis daqueles oriundos de outros países/culturas, ao chegarem em território Primeiro Mundista. Sutilmente propõe uma redefinição do significado de cultura, contestando limites e fronteiras, julgando o preconceito. Quando um personagem refere-se aos animais da lojinha, Egoyan nos deixa subentendida a condição dos que fazem parte dessa trama: “só por que são exóticos, não significa que não suportam os extremos, afinal lá fora é a selva”.

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