Parece pretensioso. E é. Mas consegue corresponder, sem esforços, aos seus objetivos. O Mundo é um Parque Temático localizado na Pequim contemporânea, que é, na verdade, uma réplica dos mais famosos e monumentais espaços existentes nos cinco continentes. O Mundo é uma metáfora do mundo. Réplica do mundo globalizado onde mesmo a grandeza parece pequena, onde as distâncias geográficas – e não-geográficas – são facilmente transpostas, onde as fronteiras são híbridas, e as pessoas, prisioneiras de livre trânsito.
O Mundo que Jia Zhang constrói é extremamente complexo. No meio dele estão os relacionamentos e conflitos humanos, vivenciados por personagens que tem um mesmo objetivo: ser alguém no mundo. E isso significa que todos estão em Pequim em busca de emprego e novas possibilidades. São cidadãos mundanos, desterritorializados, no contexto histórico de uma China - que parece ser também desterritorializada, ou pelo menos desnorteada, por excesso ou falta de referências - pós-revolução cultural.
O diretor utiliza-se de uma proposta estética diferente, chegando a usar, inclusive, “intervenções gráficas surreais” ¹ – animações – quando do uso do celular pelos personagens – aliás o celular é de suma importância (encontra-se até no cartaz do filme), símbolo da industrialização, além de permitir a comunicação, ainda que , quase sempre, superficial, entre os personagens, ele é responsável pelo desfecho da trama, quando a dançarina Tao descobre a traição de seu namorado e decide tirar a vida de ambos. Além dos inserts, o filme de Jia Zhang possui um ritmo mais lento notável – talvez em resposta ao ritmo frenético em que as coisas e filmes acontecem no mundo pós-moderno e capitalista.
Neste Mundo, há a amizade, quase muda, entre Anna (russa) e Tao. Parece-nos que ao cruzar as fronteiras do Parque as possibilidades são desastrosas. Anna, ao fazê-lo torna-se prostituta, e é com muito pesar que Tao recebe (percebe) a notícia. Parece-nos também que os espaços além do Parque são espaços de trânsito e de transição.
O longa de Jia é um filme em que se pode notar uma nova proposta (ou mesmo nova escola) estética e narrativa, além de uma multitemática – política, comunicação, identidade, história, relacionamentos, intimidade – daí sua complexidade. Ele é “multi” ao sugerir as soluções ou curas – “alguém tem um band-aid?” – ao sentimento de ser prisioneiro do mundo (e dO Mundo), ao sentimento de falta de intimidade e de um espaço próprio, ao sentimento de ser traído, ao sentimento de não pertencer a esse mundo (e aO Mundo)... entre tantos outros sentimentos deploráveis aos quais os personagens são submetidos: o passaporte, o amor e a morte.
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