quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Exotica (Atom Egoyan, Canadá, 1994)" por Eduardo Rios



Aviso: esse texto tem spoilers...


Mistério, ambientes exóticos, personagens bizarros e uma trama, a princípio, desconexa. São esses os elementos que tornam o filme de Atom Egoyan, diretor canadense nascido no Egito e de origem armênia, tão singular. O título é originado a partir do nome de uma boate de strip-tease do filme. O dancing-bar possui uma decoração bastante mesclada, uma mistura de fauna e flora tropicais com elementos de decoração do Egito e do Oriente Médio, cenário suficientemente mesclado e estranho para simbolizar a obra de Egoyan em si e os componentes da mesma. A boate “Exótica” também possui uma trilha sonora de musicas eletrônicas com ritmos orientais, a exemplo de “Everybody knows”, na voz de Leonard Cohen; além de um visual cenográfico repleto de espelhos. Esse últimos parecem representar os desdobramentos e reflexos que a história adquire a partir de cada personagem.


A trama gira em torno de quatro protagonistas um tanto estranhos, cada qual possuidor de um vício. Francis (Bruce Greenwood) é um cliente fiel do bar “Exótica” que tem como principais vícios pagar uma dança individual a uma mesma stripper e dar dinheiro a uma garota para quem sempre dá carona por motivos inicialmente desconhecidos. Christina (Mia Kirshner) é a garota que sempre dança para Francis e que também encontrou nesse ato seu vício. Eric (Elias Koteas) é a alma do “Exótica”, é um narrador o qual “invade a mente” dos clientes para, através de sua voz, convencê-los a comprar uma dança individual. Seu vício é desejar Christina. Por fim, o último personagem principal é Thomas (Don McKeller), um vendedor de animais que descobre o prazer de levar homens de outra estrutura cultural e financeira à sua casa para ter relações com eles.


A partir do desenvolvimento das histórias, o roteiro, o qual faz uso de flashbacks, revela os personagens e a situação principal de forma lenta e gradativa. As impressões iniciais que tínhamos dos protagonistas mudam bastante até o final do filme. O que parecia ser um amor secreto de Eric torna-se um ciúme infantil. Christina, a dançarina experiente, aos poucos revela sua carência e imaturidade. Thomas, um homem atrapalhado e correto, na verdade é traficante de espécies raras de animais. E Francis, o senhor de meia-idade que parecia ser o mais obsessivo de todos os personagens é um contador que está transtornado por ter perdido sua mulher e, recentemente, sua filha, vítima de crime brutal.


Os vícios dos quatro crescem no decorrer da história, e descobre-se que as individualidades específicas de cada um, mesmo sendo particularidades, dependem das individualidades e vontades dos outros, por mais bizarros que sejam os costumes. Cada um deve um favor ou um rancor ao outro. E é através desses favores ou rancores que a trama chegará ao ápice no seu final. E o mais legal é que apesar dos mistérios serem revelados apenas nos últimos minutos da película, Egoyan não deixa que tudo se torne um grande suspense. É apenas um filme misterioso que tem como personagem central o exotismo dos lugares e das pessoas, as quais, apesar das particularidades, vivem numa cadeia de dependências.

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