domingo, 16 de novembro de 2008

"Família rodante" por Lara Asfora


O diretor Pablo Trapero consegue englobar de forma inteligente todas as relações entre os membros de uma típica família Argentina, através de uma história simples e engraçada expondo a individualidade de cada um, como seus sonhos, medos e anseios, dentro do universo familiar. Trapero trata com o cuidado os dramas pessoais vividos por seus personagens.


Por causa de um convite para ser madrinha do casamento de uma sobrinha em sua região natal (Misiones), recebido no dia do seu aniversário, Dona Emilia convoca toda a família para cruzar o país numa viagem coletiva no trailer de um de seus genros, Oscar. Sendo assim os integrantes da família superam todos os obstáculos e ingressam numa jornada, onde as quatro gerações terão que passar dias convivendo em um mesmo ambiente, e se sentem no dever de demonstrar uma felicidade e uma união aparente.


O autor explora vários temas através da vida dos personagens: como a sexualidade adolescente que começa a aflorar representada pela atração não correspondida que Yanina sente pelo primo Gustavo; a traição que ocorre dentro da família abordada através da antiga paixão abafada de Ernesto por Marta que vem à tona, por eles estarem vivendo atualmente crises conjugais; a gravidez prematura de uma jovem inconseqüente que transfere a responsabilidade de criar a criança para os pais representada pela história de Paola e Cláudio. Esses temas são abordados de maneira sutil e perspicaz pelo diretor, na qual há uma resolução com naturalidade dos dramas.


O filme é o retrato de uma classe média decadente, que tem que lidar da melhor maneira possível com os problemas manifestados repentinamente, demonstrando a conhecida atitude latina que pra tudo “dá um jeito”, como se pode ver na cena na qual a família rodante passa por guardas rodoviários. Oscar, com a habilitação vencida, tenta persuadir a autoridade através do clássico discurso da vítima.


A paisagem exposta mostra uma Argentina bem diferente da conhecida, uma Argentina precária, que se assemelha com a vida dos personagens. Se o telespectador se viu em algum dos personagens, não é coincidência, pois houve claramente a intenção de Trapero de fazer surgir uma identificação entre o público e os dramas comuns e rotineiros vividos pelos seus personagens.

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