quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Minha Adorável Lavanderia – Stephen Frears (1985)" por Laíse Queiroz



"Minha Adorável Lavanderia" tem sotaque britânico, rosto paquistanês e visual datado e retrata com um tom até fantasioso um universo de casos e pessoas que vivem a margem da sociedade britânica. É no Sul da Inglaterra, numa região muito pobre, que a historia de Hanif Kureishi, indicada ao Oscar em 86 toma forma.


Estrangeiros, bandidos, vândalos, homossexuais e traficantes integram esse universo, que tem como local principal uma pretensiosa lavanderia comandada por Omar, um igualmente pretensioso e ambicioso inglês filho de paquistaneses, ajudado por seu namorado Johnny, ex-bandido, ex-vândalo e ex-fascista.


Omar arruma um emprego com seu tio, mas graças a sua ambição passa a tomar conta de uma lavanderia. Chama Johnny, um amigo dos tempos de escola, para ajudá-lo na empreitada e os dois acabam de apaixonando. Vivendo o conflito de ser tratado por seus traços estrangeiros como mestiço pelos ingleses e chamado de “inglesinho” pela família por possuir características tipicamente britânicas, Omar não sabe bem aonde encaixar-se mas não se intimida com isso. Tampouco com sua opção sexual, bem resolvida apesar de mantida em segredo. Encara o desafio de fazer a lavanderia crescer, torná-la a Ritz das lavanderias, mostrando que de fato não quer ser “devorado pelo país”, como fala a Johnny. Seu pai, um paquistanês alcoólatra e socialista não se encaixa na sociedade britânica, inconformado pelo fato de que “nos odeiam na Inglaterra e só podemos beijar seus traseiros”. Esse ódio, aliás, é muito bem representado por vândalos fascistas que pontuam a história, xingando os “pakis” e destruindo seus bens. Nenhum dos personagens se encaixa no “centro” de uma sociedade.



A família paquistanesa de Omar é unida e rica, o que às vezes dá a sensação de um Poderoso Chefão de aparências, onde se acolhe os familiares, e os valores e o afeto é relevante, mas o dinheiro ainda dá permissão para pisar no rosto do outro, esmagado contra o chão.
A grande ironia de Minha Doce Lavanderia está no fato de que é um filme em que pessoas não/mal aceitas na sociedade britânica, como estrangeiros (alias, até uma passeata de “Fora Imigrantes!” é mencionada) e bandidos, e que a principio também não se aceitam nem entre si, se juntam para fazer funcionar algo que sintetiza as necessidades de um inglês básico: uma lavanderia. Para realizar o desejo puro e clássico de um britânico: “meias limpas”.

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