domingo, 30 de novembro de 2008

“Vamos lavar as nossas roupas juntos?” por Rafael Acioly




A cidade de Londres é, certamente, uma cidade cosmopolita e uma das principais representante do que se convencionou “centro do sistema”. Em Minha adorável lavanderia de Stephen Frears (My Beautiful Laundrette, Reino Unido, 1985) – segundo filme do diretor inglês - é um filme que mostra o porquê do desejo de estar no centro. Talvez esta seja uma afirmação escorregadia e categórica, porém útil para contextualizar o primeiro elemento que me chamou a atenção neste filme. Para bem de uma fidelidade com a película, o patriarca de uma tradicional família paquistanesa de migrantes afirma: “neste maldito país, que odiamos e amamos, você pode ter tudo que quiser. Está tudo à disposição. É por isto que eu acredito na Inglaterra. Você só tem que saber como espremer as tetas do sistema.” O homem em questão é o Tio empresário de Omar. Este último é o personagem principal.

A declaração do paquistanês pode ser personificada a partir da significativa daquelas pessoas que se movem em buscas de algo melhor, ou fazem de tudo em prol de conquistas financeiras. E com o tio de Omar, não fora diferente. Em outros filmes, com é o caso de Os Imorais (1990) Frears aborda a temática da ânsia por dinheiro onde não se impõe limites. Aqui, a questão também é abordada seja nos negócios legítimos do patriarca e as suas práticas ostensivas do “desembaraçamento” para os maus pagadores, mas também, nas negociações criminosas de uma dos amigos da família e compatriota, que inclui nos seus ganhos dinheiro oriundo do tráfico de drogas.

Na periferia de Londres, portanto, tudo isto acontece enquanto Omar aceita o desafio de fazer da velha lavanderia “Powders” (pó) um espaço limpo e de negócios rentáveis. “Há dinheiro na sujeira” como foi lhe dito, neste caso sujeira pode, também, ter o sentido irônico de se referia à situação periférica.

Em meio a todas estas questões Omar vive in-betweens entre as vontades idealistas do seu pai, que está sempre lembrado ao jovem o seu desejo “você tem que ir para a universidade”, pois para ele o Centro é o lugar de expansão cultural. Contradizendo, portanto, com os desejos mercantilistas do tio. Além disto, Omar sofre com o preconceito dos estigmas, pois são nos traços faciais os indicio das origens de sua família migrante.

Mas o grande conflito de Omar está em não saber realmente de onde ele é, já que, de um lado a família do Tio vive no nicho fechado culturalmente nas suas origens; por outro, ele sabe que nasceu em Londres e no seu espírito desbravador em nada combina com o conservadorismo que lhe é cobrado. Em meio à rivalidade entre os indesejáveis imigrantes e os punks desertores, Omar ainda vive as injúrias de ter “roubado” o líder daquele grupo, que agora vive um romance homossexual com Omar.

Ao propor todo o entrelaçamento destes temas Stephen Frears constrói a atmosfera da película com cenas preenchida por uma sonoplastia envolvente, muitas vezes ritualística, que complementa a câmera. De frente à tela, às vezes nos sentimos dentro de uma lavanderia, ou em uma grande piscina, para lavarmos juntos as nossas roupas sujas.

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