quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Montenegro (1981) – Dusan Makavejev" por Laíse Queiroz



Montenegro se propõe a mostrar como homens e animais estão próximos, ligados pelos instintos, pelas vontades, mas que, no final, se diferenciam pela capacidade de discernimento do certo e errado de acordo com os padrões da sociedade e das aparências.


No começo, os homens e animais são postos lado a lado de forma explicita, numa montagem que por vezes intercalava imagens de bichos com as imagens dos personagens, sugerindo suas expressões por meio das expressões animais. No decorrer do filme a aproximação vai se tornando mais sutil imageticamente, mas se mostra nos atos dos personagens, que colocam pra fora cada vez mais seu lado selvagem, instintivo e visceral.


Marylin vive financeiramente confortável com seu marido e seus filhos, totalmente dentro dos padrões de aparências e boa vida que a sociedade exige. Mas quando o espectador adentra no universo da família, nota sua desestruturação. Em prol das aparências, eles foram se destruindo psicologicamente. Marilyn, que demonstra isso com mais força, ainda possui como agravante sua total solidão num país estranho. Mostrando em seu comportamento sinais de desequilíbrio, ela não é a única, a loucura aparece explícita também no avô da família.

Depois de decidir ir com o marido numa viagem de trabalho, ela acaba tendo problemas na alfândega e perde o vôo. Achando que o marido viajou sem ela, enquanto na verdade ele a estava procurando pelo aeroporto, aceita uma carona de um casal de imigrantes, que a colocam nas mais absurdas situações. Chegam ao Zanzi-Bar, um lugar clandestino para destilação de álcool e um “night club”. Lá, ela se depara com uma realidade completamente diferente da que vivia, presenciando cenas inimagináveis (como ver um casal transando na mesma cama em que dormia), e acaba se divertindo com isso. Leva dias para dar notícias à família, que, apesar de cogitar e esboçar uma preocupação com a possibilidade de seqüestro, também não se empenha muito em procurá-la, continuando em sua rotina normal, com o marido chegando até a comentar a paz que tomou conta da casa sem sua mulher por lá. A “comunidade” que Marilyn está é permeada de muita sensualidade e violência, com situações que beiram o surreal, deixando-a intrigada e, de certa forma, encantada.


Dusan Makavejev nos mostra como o homem pode acabar deixando de lado as convenções e trazer a tona seu lado animal, visto que o que Marilyn estava fazendo parecia absurdo para sua posição na sociedade. Mas o final, na sua volta pra casa, ao largar um lugar em que realmente ela se sentia bem e se divertia, por um lugar socialmente aceitável, ela se “redime”, nos lembrando que, sim, o homem é um animal. Mas um animal racional, e que infelizmente não se entrega por inteiro.

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