quarta-feira, 17 de junho de 2009

"As tormentas de Curtis" por Roberta Cardoso


Antes de começar a escrever este texto, fiquei com medo de fazer uma “resenha biográfica” e então tentei me guiar pelas emoções deixadas por “Control”. Falar de jovens é falar de controle, seja a presença ou a falta dele. O filme retrata o descontrole da vida de Ian Curtis, seja em decorrência da epilepsia, seja através das tentativas de fazer a vida e os seus relacionamentos pessoais terem sentido.

A vida do líder da Joy Division é desenhada por Anton Corbijn de maneira simples, cotidiana e talvez por isso, tão poética. A figura de “qualquer” garoto inglês, suburbano e confuso, acometido por uma doença horrível é maximizada pelo status de frontman de Curtis. Fotógrafo e cineasta holandês, Corbijn é responsável por várias fotos da banda e faz de cada frame uma fotografia digna de exposição. Sam Riley dá vida de maneira esplêndida ao jovem cantor. Alguns momentos do filme são tão sutilmente sincronizados que não sabemos se foram perfeitamente ensaiados ou se partem dos olhos de um espectador que, tão encantado, busca significância nos mínimos atos. Porém é preciso dizer que em alguns momentos o filme minimiza a problemática curtisiana e fazendo associações que chegam a breguice, como “Love will tear us apart” tocando após uma briga entre o casal Curtis.

Fica difícil falar sobre “Control” e não citar “24 Hours Party People”; os dois filmes retratam a mesma época, o mesmo lugar, a mesma juventude influenciada por Bowie, Lou Reed e Sex Pistols, o mesmo Tony Wilson, jornalista e fundador da Factory Records, selo de bandas como Joy Division, New Order, Happy Monkey e até o mesmo Ian Curtis.

Mas talvez a relação maior entre os dois filmes se dê através das diferenças: enquanto “24 Hours...” é colorido, tem como figura central Tony Wilson, e investe num tom assumidamente historicista, uma abordagem mais genérica e relativista, Control carrega um forte contraste numa fotografia em preto e branco, criando o universo intimista da Joy Division, delineado pela personalidade de Ian Curtis.
“Control” é baseado na biografia escrita por Deborah Curtis, esposa de Ian, E isso fica explícito na sensibilidade presente na película. Apesar dos shows, da fama e do amor pela jornalista belga Annik Honoré, é de volta para casa e para Deborah que se criam os conflitos e também a paz de Ian. Pois no subúrbio de Macclesfield, ele não precisava dar mais de si, como querem os outros. Se ‘perde o controle’ sobre seus sentimentos, Deborah faz-se firme no amor por ele e na maternidade. As tormentas que angustiavam Curtis não o derrubam em alto mar, mas o deixam tão perdido ao ponto do rapaz se afogar em seu próprio porto.

Tirando as referências ao final dos anos 70 e início dos 80, a vida de Ian Curtis mostrada por Corbijn parece anacrônica, como se qualquer recurso de medição de duração fosse inútil, tanto que o tempo rodado na tela soa incerto. Talvez pessoas pouco “sensíveis” venham a achar o filme lento, parado, mas para mim, a velocidade em que se passa a história freia antes do entediante, é ideal para nos tocar, nos desligar de nossas vidas e entrar na curta (e arrastada) vida de Ian.

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