quinta-feira, 11 de junho de 2009
"Estranhamente particular" por Felipe Lima
Jim Jarmusch é um cara estranho E gente estranha gosta de outras pessoas estranhas. Os três protagonistas de Down By Law (EUA, 1986) são excêntricos. Cada um ao seu modo. Por possuírem todos imperfeições notórias, acabaram por se afeiçoar. Conhecer o antes, o durante e o depois dessa amizade fora dos padrões é a premissa do filme, terceiro do diretor e obra seguinte a Stranger Than Paradise, justamente aquela que alavancou Jarmusch para o pedestal de ícone cult-independente-alternativo-outlaw-outside-incomum dos Estados Unidos, no começo da década de 80. Pequena odisséia em preto-e-branco, fotografada por Roby Muller de Paris, Texas, de Win Wenders e com trilha sonora dos músicos que contracenam na película.
Jarmusch declarou certa vez que o que “quer fazer é fazer filmes que contem histórias, mas de alguma maneira de um jeito novo, não de uma forma premeditada, não do jeito normal e manipulador”. Centrado nas pequenas odisséias pessoais de cada um dos personagens, somos apresentados um a um ao três protagonistas: primeiro a Jack (o jazzista John Lurie) e em seguida a Zack (o cantor Tom Waits, que, ora que surpresa, é um tanto quanto estranho). Envolvidos em situações inescapáveis, terminam presos e em uma mesa cela, que não tarda a ficar mais cheia com a presença de Roberto (Roberto Benigni).
Diálogos aparentemente sem sentido, discussões sem evolução e implicâncias infantis e gratuitas marcam o convívio dos três. É justamente ao mostrar esse período que o filme atinge seu melhor momento. O que pode parecer desinteressante foi a forma fora dos padrões que Jarmusch encontrou para narrar o início da amizade entre os personagens. Se no começo, temos uma amostra das inconstâncias emocionais e vacilos racionais dos protagonistas, entendemos porque se tornaram próximos quando postos juntos em um cubículo na Orleans Parish Prison, complexo penitenciário que também já foi título de canção de outro famoso outlaw norteamericano, Johnny Cash.
Pena que o filme se torne deveras claudicante e sem sentido em seu final. Uma sucessão de outros acontecimentos incomuns, no entanto inflado de fantasias que terminam por desnivelar-se em qualidade com a primeira metade do longa. Até mesmo Tom Waits, que se com sua voz gutural e feições sombriamente enrugadas já chama atenção, consegue ser ainda mais esquisito e sedutor com seu Zack consegue escapar do caminhão descarrilado que é o fim do longa. O pior, é que essa era a verdadeira intenção do filme, ser parte pesadelo, parte conto de fadas.
Nada, porém, que venha a desmerecer a obra, classificada como algo entre o noir, o espírito beatnik renovado e a comédia, todas misturadas em uma embalagem alternativa. Música de primeira qualidade, diálogos inteligentes, posturas hypes, jeitão de descolado. Um filho autêntico filho de Jim Jarmusch, dono de particularidades estranhas, mas ainda assim particularidades. O que é um grande feito em meio à chatice da normalidade vigente no cinema mainstream.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Texto livre, leve, solto, e perfeitamente pronto pros jornais: meu irmão é muito difícil ter isso tudo em mãos!
ResponderExcluir.
DAVI LIRA