Vannes, Nevers, Hiroshima. As cidades estão nas pessoas, as pessoas são as cidades. O cineasta francês Alain Resnais nasceu em 1922, na cidade de Vannes, França. Começou sua carreira realizando trabalhos independentes, em sua maioria filmes/estudos sobre artistas como Vincent Van Gogh, o surrealista Max Ernst e Picasso e o seu 'Guernica'. Realizou importantes documentários, construções da novelle vague, como Noite e Neblina (Nuit et Brouillard, 1955), sobre os campos de extermínio nazistas. Sua estréia na ficção foi o hoje aclamado “Hiroshima, Mon Amour”, em 1959. O filme é uma adaptação de um manuscrito da escritora do noveau roman, Marguerite Duras.
Hiroshima, Mon Amour narra a história de uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) que está na cidade japonesa para realizar um filme sobre a paz. Durante as filmagens, ela se envolve com um arquiteto japonês (Eiji Okada). Ele sobreviveu aos bombardeios de Hiroshima. Ela amou na cidade de Nevers um soldado alemão no final da Segunda Guerra. O soldado alemão foi morto no dia em que a cidade foi libertada. A atriz projeta suas memórias do amor com o soldado alemão no tempo/corpo presente, incorpora no arquiteto japonês sua dor, seu alívio. Ela quer tecer novos rumos para suas reminiscências.
A película começa com os corpos de Emmanuelle Riva e Eiji Okada, cobertos por uma cinza, brilhantes, pele roçando pele. Ela diz que já viu tudo em Hiroshima e ele replica que ela ainda não viu nada. Algumas imagens do que se supõe seja um documentário sobre os efeitos da bomba atômica em Hiroshima vão se entrelaçando, como se emaranhassem nos corpos dos personagens. As cidades estão nas pessoas. As memórias começam a ganhar corpo, o passado vai ecoando, fluindo, se superpondo sobre o presente.
Nevers, Hiroshima. O filme trata de misturar os tempos, embaralhar as referências do telespectador, ora narrando a relação entre a atriz e o arquiteto, ora fugindo, ou melhor, atualizando (no sentido de tornar presente) as vivências em Nevers. A francesa foi castigada por sua família, aprisionada num porão escuro. Ela não poderia ter amado um alemão. O telespectador descobre a história em Nevers na medida em que ela conta ao seu amante japonês suas lembranças.
Hiroshima, Nevers. Os dois se afastam, como se também a separação da francesa e o soldado alemão fosse re-criada. Resnais parece falar da impossibilidade do amor (o nome da cidade de Nevers parece insistir na referência óbvia do nunca para o amor) e da persistência da memória. O soldado alemão (r)existe no corpo dela, a cidade de Nevers está em seus olhos, sua cabeça; o jovem japonês persegue sua amante, a procura por toda Hiroshima. Somos instigados por dois fluxos paralelos, mas intimamente ligados: o passado em Nevers e o presente em Hiroshima.
O lugar-no-tempo onde o filme se passa, situa o caso de amor entre Emmanuelle e Okada numa época fria, período dos desdobramentos, dos efeitos das bombas na alma das pessoas/cidades. Tanto a atriz quanto o arquiteto estão mutilados pela insistência com que o passado se corpo, ganha peso, vida. Ela participa de um filme sobre a paz, porém podemos perceber mais o terror do silêncio, a palavra na garganta de uma cidade, tudo dormente, ainda por despertar de seu sono de agonia. Ele guarda as imagens de Hiroshima durante o bombardeio – “Ela (a atriz) não viu nada”.
“Hiroshima, Mon Amour” é um filme sobre cicatrizes. Mutilações na carne e no terreno sombrio e pantanoso da memória. O filme é uma cicatriz ele mesmo, película que inaugura e ventila inovações estilísticas, narrativas ousadas, escolhas heterogêneas. Um filme sobre a paz é feito em Hiroshima, é feito um filme sobre Hiroshima – o filme dentro do filme, o mundo no mundo. A Guerra Fria e o frio do silêncio onipresente em Hiroshima... Alain Resnais e suas cidades parecem dizer às outras partes do mundo dos horrores da existência humana, fadada ao fracasso na tentativa de superação do passado, na invenção do amor. Hiroshima, Nevers, Hiroshima, Vannes. Todas as cidades, todos os corpos.
Hiroshima, Mon Amour narra a história de uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) que está na cidade japonesa para realizar um filme sobre a paz. Durante as filmagens, ela se envolve com um arquiteto japonês (Eiji Okada). Ele sobreviveu aos bombardeios de Hiroshima. Ela amou na cidade de Nevers um soldado alemão no final da Segunda Guerra. O soldado alemão foi morto no dia em que a cidade foi libertada. A atriz projeta suas memórias do amor com o soldado alemão no tempo/corpo presente, incorpora no arquiteto japonês sua dor, seu alívio. Ela quer tecer novos rumos para suas reminiscências.
A película começa com os corpos de Emmanuelle Riva e Eiji Okada, cobertos por uma cinza, brilhantes, pele roçando pele. Ela diz que já viu tudo em Hiroshima e ele replica que ela ainda não viu nada. Algumas imagens do que se supõe seja um documentário sobre os efeitos da bomba atômica em Hiroshima vão se entrelaçando, como se emaranhassem nos corpos dos personagens. As cidades estão nas pessoas. As memórias começam a ganhar corpo, o passado vai ecoando, fluindo, se superpondo sobre o presente.
Nevers, Hiroshima. O filme trata de misturar os tempos, embaralhar as referências do telespectador, ora narrando a relação entre a atriz e o arquiteto, ora fugindo, ou melhor, atualizando (no sentido de tornar presente) as vivências em Nevers. A francesa foi castigada por sua família, aprisionada num porão escuro. Ela não poderia ter amado um alemão. O telespectador descobre a história em Nevers na medida em que ela conta ao seu amante japonês suas lembranças.
Hiroshima, Nevers. Os dois se afastam, como se também a separação da francesa e o soldado alemão fosse re-criada. Resnais parece falar da impossibilidade do amor (o nome da cidade de Nevers parece insistir na referência óbvia do nunca para o amor) e da persistência da memória. O soldado alemão (r)existe no corpo dela, a cidade de Nevers está em seus olhos, sua cabeça; o jovem japonês persegue sua amante, a procura por toda Hiroshima. Somos instigados por dois fluxos paralelos, mas intimamente ligados: o passado em Nevers e o presente em Hiroshima.
O lugar-no-tempo onde o filme se passa, situa o caso de amor entre Emmanuelle e Okada numa época fria, período dos desdobramentos, dos efeitos das bombas na alma das pessoas/cidades. Tanto a atriz quanto o arquiteto estão mutilados pela insistência com que o passado se corpo, ganha peso, vida. Ela participa de um filme sobre a paz, porém podemos perceber mais o terror do silêncio, a palavra na garganta de uma cidade, tudo dormente, ainda por despertar de seu sono de agonia. Ele guarda as imagens de Hiroshima durante o bombardeio – “Ela (a atriz) não viu nada”.
“Hiroshima, Mon Amour” é um filme sobre cicatrizes. Mutilações na carne e no terreno sombrio e pantanoso da memória. O filme é uma cicatriz ele mesmo, película que inaugura e ventila inovações estilísticas, narrativas ousadas, escolhas heterogêneas. Um filme sobre a paz é feito em Hiroshima, é feito um filme sobre Hiroshima – o filme dentro do filme, o mundo no mundo. A Guerra Fria e o frio do silêncio onipresente em Hiroshima... Alain Resnais e suas cidades parecem dizer às outras partes do mundo dos horrores da existência humana, fadada ao fracasso na tentativa de superação do passado, na invenção do amor. Hiroshima, Nevers, Hiroshima, Vannes. Todas as cidades, todos os corpos.
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