terça-feira, 20 de março de 2007

"Punky Brewster" por Gustavo Ferreira


Punky Brewster

Apesar do nome pimpão dado pela tradução brasileira, “Levada da Breca” é de fato um filme bastante pimpão. O “apesar” seria desnecessário, eu sei, mas falamos de um povo que deu a “Il buono, il brutto, il cattivo” o título de “Três homens em conflito” e a “Calamity Jane” o repulsivo nome de “Ardida como pimenta”, título que, um plural aqui, um retoque ali, eu daria a um filme pornô com lésbicas. Não que “Levada da Breca” seja a tradução perfeita para “Bringing up Baby”, oh, não, seria esperar demais dos brasileiros, mas convenhamos que ficou bastante divertido.
Quando se vai analisar um filme, geralmente fala-se um bom bocado sobre as atuações, mas, pelos céus!, são Katharine Hepburn e Cary Grant! Isso deve bastar sobre eles. Katharine é Susan Vance, uma jovem rica, linda, moderna e linda que se apaixona por Cary, no papel do museólogo (ou paleontólogo?) Dr. David Huxley, e acaba estragando sua vida com a melhor das intenções. Mas esse resumo está um tanto breve para descrever todo o filme. Vamos a alguns detalhes, sem nenhuma ordenação especial.
O Baby do título não se refere a Katharine. Tampouco se refere a uma pessoa qualquer, mas a um leopardo caçado pelo irmão de Katharine (Susan) no Brasil (interpretado divinamente pelo leopardo Nissa, segundo dados do IMDB). Susan está guardando Baby em casa para seu irmão. O doutor Huxley espera um importante osso para completar o esqueleto de um dinossauro – brontossauro?, não lembro, mas o osso vai, futuramente, dar a ele, via Susan, o nome falso de “Mr. Bone” (senhor Osso, literalmente).
Eles se conhecem no golfe, quando Susan estraga e rouba, “sem querer”, o carro de Huxley, juntamente com sua partida de golfe e o encontro com o advogado de Elizabeth Random, milionária que pensava em doar um milhão de dólares para o museu de Huxley.
Huxley está de casamento marcado para “amanhã”, com sua colega de trabalho que dispensa até a lua de mel, por causa do trabalho. Uma workaholic pé-no-saco, em resumo. Mas Katharine não deixa que eles se casem. Ela o leva para a chácara (sítio?, fazenda?) de sua tia, junto a Baby, e arruma maneiras de mantê-lo lá (como roubar sua roupa enquanto toma banho).
Coincidentemente, Susan é sobrinha de Elizabeth Random e candidata ao milhão de dólares a que o museu concorria. Ela não dá a mínima, porque está apaixonada e tudo o que quer é a felicidade do personagem de Cary Grant. É curioso, já que tudo o que ela consegue é estragar aos poucos toda a vida dele. Primeiro, ela o impede de se casar. A seguir, faz com que perca seu milhão. Por sua culpa, o cachorro de Elizabeth Random esconde o último osso do dinossauro de Huxley. Por sua culpa vão presos. Graças a ela o filme é tão bom.
O filme não conta com um “ápice”, mas é todo ele ritmado na mesma velocidade e intensidade – assim como “2001: uma odisséia no espaço”: ambos seguem o filme inteiro com a mesma velocidade. A diferença é que “Bringing up Baby” tem alguma velocidade, ao contrário da Odisséia, que não sai do lugar durante suas mais de duras horas (que parecem dias) e é o pior filme já feito – gente andando pelas paredes, pff!
Menti. O filme tem, sim, um ápice. É a cena da escada, assim batizada por mim por causa da escada. Katharine balança no alto de uma escada, apaixonada, derruba a escada e se pendura no esqueleto do dinossauro, Cary Grant a segura, o dinossauro desmorona e eles ficam juntos. Um excelente final feliz.
Se você tem bom gosto e concorda que “2001” é péssimo, deve gostar de “Bringing up Baby”. Filme quatro estrelas.

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