quarta-feira, 21 de março de 2007

"Levada da breca" por Juliana Paes


Uma mulher que inconstante e teimosa que carrega consigo quase todos os lados estereotipados da personalidade feminina. Este é o grande trunfo de Levada da Breca (Bringing Up Baby – 1938). A figura de Susan Vance é o centro das atenções do filme que conta a história de David Huxley, um arqueólogo que dedica a maior parte do tempo a cuidar do seu museu. David e Susan se conhecem por acaso em estacionamento de um clube de golfe, onde David perdia de um possível investidor para agradá-lo.
A batida dos carros exprime bem a forma como Susan entra na vida de David: de repente e causando muitos transtornos. O maior deles é o fato dela apaixonar-se perdidamente e perseguir obstinadamente o objetivo de casar-se com o arqueólogo.
Esta é uma das facetas de Susan: a mulher desesperadamente apaixonada. Mas, em vez de ciumenta ou vítima dos próprios sentimentos, ela assume uma postura totalmente inesperada e cômica: ela ignora os fatos de não ser correspondida e de David estar de casamento marcado com uma assistente do museu. Longe de se parecer com a figura da “amante” ou do “amor à primeira vista” do cientista, Susan é doce e infantilmente inconseqüente. Procura conquistar seu amado colaborando com o trabalho dele, mas só o atrai para situações complicadas e até vexatórias.
Para arrematar o tom da comédia, um leopardo de estimação! Uma fera que transita preguiçosamente pelos cômodos da casa como gato doméstico. Ao ver o felino, é só esperar a vez de ele roubar a cena. Acontece na delegacia, quando dois leopardos e o instinto que lhes é natural intimidam as pessoas e “desmoralizam” até as autoridades policiais.
Para interpretar a multifacetada Susan, Katharine Hepburn. É interessante ver filmes antigos quando as mulheres bonitas, os sex symbols eram obras-primas da natureza retocadas por cabeleireiros e maquiadores. Hoje, qualquer menina menos desengonçada pode passar uma semana em um casulo transformando o nariz, as costelas, o tom da pele, a forma dos dentes para se tornar mais uma princesinha pré-formatada de Hollywood.
Além da beleza da atriz e da personagem dócil e cômica, há de se dizer ainda que este foi o terceiro filme que Katharine Hepburn e Cary Grant estrelaram juntos. Talvez este seja um dos motivos que expliquem a forma como os espectadores ficam atentos a uma trama tão surreal quanto a paixão de Susan Vance pelo Dr. David Huxley.

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