Realismo ou metafísica, sugestão ou violência - é difícil saber o que faz um filme de suspense melhor. Utilizando-se a simplicidade do dicionário, uma coisa é certa: suspense é aquilo “que faz nascer um sentimento de angústia ou de dúvida” no espectador. Pois bem. Bons filmes de suspense não precisam ser recheados de efeitos especiais, nem terem grandes orçamentos; devem, de fato, conduzir o espectador para dentro da trama, dirigindo suas emoções. Coisa que ninguém soube fazer como Alfred Hitchcock.
Apesar do título “Mestre do suspense” haver sido uma autodenominação, a verdade é que Hitchcock fez jus à fama. Como disse Truffaut, ele soube “conduzir o público ao capricho de sua sensibilidade”. Velho conhecido do medo – quando tinha cinco anos, seu pai chegou a trancá-lo em uma delegacia para que fosse um menino bonzinho -, Hitchcock aprendeu a construir no vídeo uma “atmosfera dramática precisa”, em que se sobressai o elemento tensão.
A produção fílmica do diretor pode ser dividida em duas: britânica – a primeira, dada sua nacionalidade – e hollywoodiana. Ele começou a filmar em 1925, ainda na época do cinema mudo, com Jardim dos Prazeres. O primeiro sucesso veio dez anos depois, em Os 39 degraus. Depois de ser consagrado pela crítica - recebendo, inclusive, elogios dos Nouvelle Vaguistas - Hitchcock resolveu mudar os ares. Nos Estados Unidos, produziu seus grandes sucessos de bilheteria: Rebecca (1940), Um corpo que cai (1958), Psicose (1960) e Os pássaros (1963).
Cineasta de estética recorrente, Hitchcock inova com Os pássaros. Ainda há o “crime” como o background, mas aqui não se trata de um assassinato, mas de algo um tanto sobrenatural: uma série de ataques de aves enfurecidas numa pequena cidade na Califórnia. No filme, Rod Taylor é Mitch Brenner, um promotor de Justiça aficionado por pássaros, e Tippi Hendren é a socialite Melanie Daniels. Os dois se encontram numa loja de animais, quando Brenner está à procura de um casal de periquitos para presentear sua irmãzinha.
Atraída pelo promotor bonitão, ela o segue até Bodega Bay, onde ele está passando o fim de semana. Mas a cidade, aparentemente tranqüila, vai oferecer a surpresa principal do filme. O ataque dos pássaros começa tímido, quando uma gaivota agride Melanie na volta da casa de Mitch. Pouco a pouco, as aves se agrupam e se põem a avançar contra todos.
Não há motivo racional para as investidas. E Hitchcock não pretende desvendá-lo. Pensar em inverossimilhança se revela infundado no decorrer da estória, porque, apesar da falta de explicação, os ataques das aves são tão realistas e violentos que fazem o espectador refletir sobre a real possibilidade de acontecerem. Nesse ponto, Hitchcock consegue atingir o que seria, para ele, o objetivo do cinema: criar um espetáculo de identificação, para que o público se sinta dentro da tela, e, a partir daí, na pele do personagem.
É por isso que o cineasta tem predileção pelo desenvolvimento da psicologia das figuras dramáticas. A partir desse princípio, descobrimos porque ele pontua, na primeira parte dos Pássaros, a personalidade de cada personagem: a carência de Melanie, deixada de lado pela família; a falsa mulherenguice de Mitch, na verdade oprimido por uma mãe possessiva; e a infelicidade da professora Annie, abandonada no passado pelo promotor.
Assim, na segunda parte do filme, o espectador se encontra bastante envolvido, e acaba por torcer pelo happy end – outra recorrência hitchcockiana, assim como os suspeitos inocentes, loucura, voyerismo, mulheres loiras e mães dominadoras.
Na obra de Hitchcock, o contraponto cômico alivia a tensão e prepara o espectador para o próximo susto. É o que acontece em Os pássaros, em uma seqüência memorável dentro de um bar, quando os personagens especulam sobre a veracidade dos ataques. No filme, o cineasta também exibe sua preferência pelos ambientes internos, principalmente no clímax, quando os protagonistas estão enclausurados na sala da casa da família. Melanie, presa em um quarto, sofre a agressão final.
Para propiciar o clima de suspense, a movimentação da câmera segue o estilo hitchcockiano: primeiros planos, closes e detalhes. A sonoplastia aqui é ponto inovador: é totalmente derivada de efeitos sonoros, que criaram o som das aves gritando. Os Pássaros, desse modo, segue o preceito realista das tramas do cineasta, apesar do mote fantástico, simplesmente razão para cultivar o temor psicológico, o subconsciente, a reflexão sobre algo que, naturalmente, não oferece perigo: aves.
Os pássaros é um verdadeiro filme de suspense, não no sentido de exercer medo – talvez o tenha feito em 1963, obviamente -, mas de deixar o espectador em permanente tensão. A angústia segue a película até o desfecho inovador: Hitchcock esquece o final feliz, e conclui o filme sem o tradicional The end. O motivo é claro. O receio não acaba, não existe explicação lógica, e, apesar da aflição diminuir, a desconfiança continua. Bem capaz de um espectador de Os pássaros adquirir uma aversão temporária pelos bichos. Hitchcock ficaria muito feliz em saber.
Apesar do título “Mestre do suspense” haver sido uma autodenominação, a verdade é que Hitchcock fez jus à fama. Como disse Truffaut, ele soube “conduzir o público ao capricho de sua sensibilidade”. Velho conhecido do medo – quando tinha cinco anos, seu pai chegou a trancá-lo em uma delegacia para que fosse um menino bonzinho -, Hitchcock aprendeu a construir no vídeo uma “atmosfera dramática precisa”, em que se sobressai o elemento tensão.
A produção fílmica do diretor pode ser dividida em duas: britânica – a primeira, dada sua nacionalidade – e hollywoodiana. Ele começou a filmar em 1925, ainda na época do cinema mudo, com Jardim dos Prazeres. O primeiro sucesso veio dez anos depois, em Os 39 degraus. Depois de ser consagrado pela crítica - recebendo, inclusive, elogios dos Nouvelle Vaguistas - Hitchcock resolveu mudar os ares. Nos Estados Unidos, produziu seus grandes sucessos de bilheteria: Rebecca (1940), Um corpo que cai (1958), Psicose (1960) e Os pássaros (1963).
Cineasta de estética recorrente, Hitchcock inova com Os pássaros. Ainda há o “crime” como o background, mas aqui não se trata de um assassinato, mas de algo um tanto sobrenatural: uma série de ataques de aves enfurecidas numa pequena cidade na Califórnia. No filme, Rod Taylor é Mitch Brenner, um promotor de Justiça aficionado por pássaros, e Tippi Hendren é a socialite Melanie Daniels. Os dois se encontram numa loja de animais, quando Brenner está à procura de um casal de periquitos para presentear sua irmãzinha.
Atraída pelo promotor bonitão, ela o segue até Bodega Bay, onde ele está passando o fim de semana. Mas a cidade, aparentemente tranqüila, vai oferecer a surpresa principal do filme. O ataque dos pássaros começa tímido, quando uma gaivota agride Melanie na volta da casa de Mitch. Pouco a pouco, as aves se agrupam e se põem a avançar contra todos.
Não há motivo racional para as investidas. E Hitchcock não pretende desvendá-lo. Pensar em inverossimilhança se revela infundado no decorrer da estória, porque, apesar da falta de explicação, os ataques das aves são tão realistas e violentos que fazem o espectador refletir sobre a real possibilidade de acontecerem. Nesse ponto, Hitchcock consegue atingir o que seria, para ele, o objetivo do cinema: criar um espetáculo de identificação, para que o público se sinta dentro da tela, e, a partir daí, na pele do personagem.
É por isso que o cineasta tem predileção pelo desenvolvimento da psicologia das figuras dramáticas. A partir desse princípio, descobrimos porque ele pontua, na primeira parte dos Pássaros, a personalidade de cada personagem: a carência de Melanie, deixada de lado pela família; a falsa mulherenguice de Mitch, na verdade oprimido por uma mãe possessiva; e a infelicidade da professora Annie, abandonada no passado pelo promotor.
Assim, na segunda parte do filme, o espectador se encontra bastante envolvido, e acaba por torcer pelo happy end – outra recorrência hitchcockiana, assim como os suspeitos inocentes, loucura, voyerismo, mulheres loiras e mães dominadoras.
Na obra de Hitchcock, o contraponto cômico alivia a tensão e prepara o espectador para o próximo susto. É o que acontece em Os pássaros, em uma seqüência memorável dentro de um bar, quando os personagens especulam sobre a veracidade dos ataques. No filme, o cineasta também exibe sua preferência pelos ambientes internos, principalmente no clímax, quando os protagonistas estão enclausurados na sala da casa da família. Melanie, presa em um quarto, sofre a agressão final.
Para propiciar o clima de suspense, a movimentação da câmera segue o estilo hitchcockiano: primeiros planos, closes e detalhes. A sonoplastia aqui é ponto inovador: é totalmente derivada de efeitos sonoros, que criaram o som das aves gritando. Os Pássaros, desse modo, segue o preceito realista das tramas do cineasta, apesar do mote fantástico, simplesmente razão para cultivar o temor psicológico, o subconsciente, a reflexão sobre algo que, naturalmente, não oferece perigo: aves.
Os pássaros é um verdadeiro filme de suspense, não no sentido de exercer medo – talvez o tenha feito em 1963, obviamente -, mas de deixar o espectador em permanente tensão. A angústia segue a película até o desfecho inovador: Hitchcock esquece o final feliz, e conclui o filme sem o tradicional The end. O motivo é claro. O receio não acaba, não existe explicação lógica, e, apesar da aflição diminuir, a desconfiança continua. Bem capaz de um espectador de Os pássaros adquirir uma aversão temporária pelos bichos. Hitchcock ficaria muito feliz em saber.
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