sábado, 24 de março de 2007

"A companhia dos lobos" por Erick Vasconcelos


Devo começar parabenizando o diretor Neil Jordan pelos maravilhosos efeitos especiais de transformação dos lobisomens de A Companhia dos Lobos (1984). Neste ponto, ao que parece, o diretor realmente levou a sério sua determinação de fazer uma paródia de Chapeuzinho Vermelho. As transformações ficaram muito engraçadas. Principalmente uma delas, que dura, talvez, cinco minutos, e em que o lobo é morto instantaneamente depois de terminar sua metamorfose com um golpe de pá na cabeça. Hilário.
O filme mostra os sonhos da adolescente Rosaleen (Sarah Patterson), que havia visto sua irmã ser morta por um lobo. Sua avó (Angela Lansbury), então, lhe conta histórias sobre lobisomens e seus perigos. Ela alerta a neta para os perigos dos homens cujas sobrancelhas se encontram (os chamados monocelhas), que são lobisomens, e a adverte para nunca sair da trilha na floresta. Tudo isso num ambiente carregado de maquiagem.
A Companhia dos Lobos pretende misturar fantasia com horror, mas eu não diria que teve sucesso. Como já assinalei, os lobisomens não conseguem ser mais que kitsch, e as histórias contadas pela vovozinha (às vezes contadas por alguém de dentro de uma história da vovozinha) idem. Jordan, aparentemente para manter uma aura infantil no filme, mostra uma Rosaleen deslumbrada com as histórias, mas que, mesmo assim, esquece dos conselhos que lhe foram dados. Ao final, ela acaba por sair da trilha da floresta, apesar dos repetidos conselhos em contrário, e leva para a casa de sua avó um homem cujas sobrancelhas se encontram. O lobisomem mata a velha, mas Rosaleen, com sua inocência, fica amiga dele.
Há algumas características estéticas do filme bastante irritantes. Em primeiro lugar, a supracitada maquiagem. Ela dá cor ao filme; de fato, dá cor demais ao filme, embora ele se passe numa floresta escura. Em segundo lugar, os brinquedos na floresta. I mean, c’mon. Brinquedos na floresta para dar um aspecto de lugar fantástico? Sejamos mais criativos. Também não posso deixar de citar a cabeça de gesso da vovó que se quebra no final do filme. Qual seria a mensagem metafórica disso? A única coisa em que consegui pensar foi na fragilidade das pessoas mais senis (e fica bem engraçado dessa forma).
E, por falar em metáforas, estou até agora pensando sobre qual será a mensagem subjacente ao final do filme, onde Rosaleen, no mundo real, é atacada por lobos em seu quarto quando dorme. Sonhos se tornam realidade? Inspirador.
Por fim, tenho que reagir àqueles que dizem que há algum tipo de “sensualidade” neste filme. Por favor, digam-me que tipo de droga estão usando.

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