O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante (1989) é a película da virada na filmografia do cineasta britânico Peter Greenaway. Por ser notadamente mais acessível que suas primeiras realizações, O cozinheiro... veio colocar Greenaway naquele hall de cineastas inovadores que provocam entusiasmo no público e na crítica. Não seria por menos. Essa película causou bastante polêmica na época de seu lançamento pela crueza com que expunha todas as ordens de violência envoltas por uma bela e irretocável atmosfera pictórica.
Greenaway é um pintor armado com uma câmera de cinema. No O cozinheiro...essa afirmação se traduz pela intensidade com que a cores dominam cada ambiente da narrativa. A cromatografia nessa película é ela mesma uma intérprete. O vermelho visceral do restaurante, o branco idílico do banheiro, o verde vegetal da cozinha. Cada ambiente invade a tela com sua cor. Impossível não ser arrematado por elas. Como pinceladas rápidas de um pintor a sobrepor os tons da tela, o figurino criado por Jean Paul Gaultier se transforma durante as transições de cenário. Outra referência direta ao universo pictórico está na parede do restaurante do mafioso Spica (Michael Gambon) onde, quase uma alegoria do próprio filme, figura o Banquete dos oficiais da companhia da guarda de São Jorge, obra do holandês Frans Hals (1580-1661). Tantas referências à pintura se explicam em parte pelo fato de Greenaway ter sido pintor antes de se dedicar ao cinema. Chegou certa vez a afirmar que a única arte que o ensinara algo fora a pintura, “a arte suprema”, segundo ele.
O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante são personagens ligados pelo comensal. A narrativa se desenvolve ao redor da mesa: lugar onde a civilização encontra a barbárie; onde o extremo poder faz face à submissão completa; onde o sublime é rebaixado ao visceral. À mesa, tal um padrino italiano, o mafioso comanda a pleno poder e com todas as notas sua sinfonia do mais extremado mau-gosto. O excesso e a decadência dão forma aos diálogos brutais, aos gestos violentos e ao humor mais que negro do gangster Spica. Os banquetes do restaurante La Hollandaise são transformados em celebrações ao grotesco mais repugnante e animalesco. Greenaway articula com virtuosismo os ingredientes orgiásticos diletos desse universo grotesco. O sexo, a violência festiva, o banquete. O poder arbitrário do disforme Spica causa riso e, ao mesmo tempo, horror. O sexo transita entre o banheiro e a cozinha. Todos os elementos nos restituem a dimensão das profundezas, das entranhas, do baixo ventre.
Para uns uma referência aos anos Thatcher, para outros uma crítica ao novo rico britânico, O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante é um filme que une haute cuisine à escatologia, beleza plástica à violência insana, humor à bizarria. Sem dúvida um grande prato.
Greenaway é um pintor armado com uma câmera de cinema. No O cozinheiro...essa afirmação se traduz pela intensidade com que a cores dominam cada ambiente da narrativa. A cromatografia nessa película é ela mesma uma intérprete. O vermelho visceral do restaurante, o branco idílico do banheiro, o verde vegetal da cozinha. Cada ambiente invade a tela com sua cor. Impossível não ser arrematado por elas. Como pinceladas rápidas de um pintor a sobrepor os tons da tela, o figurino criado por Jean Paul Gaultier se transforma durante as transições de cenário. Outra referência direta ao universo pictórico está na parede do restaurante do mafioso Spica (Michael Gambon) onde, quase uma alegoria do próprio filme, figura o Banquete dos oficiais da companhia da guarda de São Jorge, obra do holandês Frans Hals (1580-1661). Tantas referências à pintura se explicam em parte pelo fato de Greenaway ter sido pintor antes de se dedicar ao cinema. Chegou certa vez a afirmar que a única arte que o ensinara algo fora a pintura, “a arte suprema”, segundo ele.
O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante são personagens ligados pelo comensal. A narrativa se desenvolve ao redor da mesa: lugar onde a civilização encontra a barbárie; onde o extremo poder faz face à submissão completa; onde o sublime é rebaixado ao visceral. À mesa, tal um padrino italiano, o mafioso comanda a pleno poder e com todas as notas sua sinfonia do mais extremado mau-gosto. O excesso e a decadência dão forma aos diálogos brutais, aos gestos violentos e ao humor mais que negro do gangster Spica. Os banquetes do restaurante La Hollandaise são transformados em celebrações ao grotesco mais repugnante e animalesco. Greenaway articula com virtuosismo os ingredientes orgiásticos diletos desse universo grotesco. O sexo, a violência festiva, o banquete. O poder arbitrário do disforme Spica causa riso e, ao mesmo tempo, horror. O sexo transita entre o banheiro e a cozinha. Todos os elementos nos restituem a dimensão das profundezas, das entranhas, do baixo ventre.
Para uns uma referência aos anos Thatcher, para outros uma crítica ao novo rico britânico, O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante é um filme que une haute cuisine à escatologia, beleza plástica à violência insana, humor à bizarria. Sem dúvida um grande prato.
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