terça-feira, 20 de março de 2007

"Whatever Happened to Soundtracks?" por Erick Vasconcelos Pimentel


Quando, em Donnie Darko (2001, dir. Richard Kelly), o adolescente problemático Donnie (e futuro cowboy gay ganhador do Oscar Jake Gyllenhaal) vai incendiar a casa do famoso produtor de vídeos de auto-ajuda e pedófilo Jim Cunningham (Patrick Swayze), sua irmã, junto com as companheiras do grupo Sparkle Motion, dançam ao som de Duran Duran: “No, No, Notorious.../No, no, notorious.../I... can’t read about it, burns the skin from your eyes/I’ll do fine without, here’s one you don’t compromise...” Mais tarde, igualmente, Gary Jules, com “Mad World”, conta a história do filme: “All around me are familiar faces/worn out places/worn out faces/ Bright and early for their daily races/Going nowhere, going nowhere/Their tears are filling up their glasses/No expression, no expression.” Isso parece ser um vício em Donnie Darko – similarmente o início do filme, na escola, é apresentado com música.
Jackie Brown (Pam Grier), no filme homônimo (1996, dir. Quentin Tarantino), começa o filme andando no aeroporto ao som dos anos 70 com “Across the 110th Street” de Bobby Womack: “Across the 110th Street/Pimps trying to catch a woman that’s weak/Across the 110th Street/Pushers won’t let the junkie go free/Across the 110th Street/Woman trying to catch a trick on the street/ Across the 110th Street/You can find it all in the street”. Em Kill Bill (2003), Tarantino mostra o mesmo bom gosto (and I ain’t kidding, fella) ao deixar tocar músicas como a intelectual “Woo Hoo” no covil de O-Ren Ishii (Lucy Liu) (“Woo-hoo, Woo-hoo-hoo/Woo-hoo, Woo-hoo-hoo/Woo-hoo, Woo-hoo-hoo/Woo-hoo, Woo-hoo-hoo”) e “Bang Bang”, de Nancy Sinatra, no início. Outra música excelente que deu ensejo a uma das cenas mais legais do filme é a instrumental “Battle Without Honor or Humanity” de Tomoyasu Hotei, a qual toca enquanto O-Ren e sua gangue andam por um corredor. Impossível ser mais cool.
Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001, dir. Steven Soderbergh) é outro filme que demonstra notável habilidade no manejo da trilha sonora. Enquanto Reuben (Eliott Gold) conta a história dos 3 roubos que tiveram mais sucesso em Las Vegas, uma música para cada época toca ao fundo. Para o roubo do final dos anos 60, toca “Papa Loves Mambo” de Perry Como. Para o de 1971, “De La Soul”. E, para o de 1987, “Take My Breath Away”, do Berlin. Já em Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1990, dir. Martin Scorsese), a calma “Layla” de Eric Clapton é tocada enquanto corpos são encontrados em lugares como um caminhão de lixo, em ganchos de um frigorífico...
Em Encontros e Desencontros (que tipo de título bizarro é esse? Lost in Translation, 2003, dir. Sofia Coppola), não só a trilha é tocada de fato, como os atores cantam as músicas. O trailer de 300 (2007, dir. Jack Snyder) também mostra exatamente como uma trilha sonora deveria ser utilizada. Embora eu ainda não tenha visto o filme, pelo menos pelo que já fui capaz de observar, além dos cenários computadorizados incríveis que imitam os desenhos da HQ, podemos esperar uma trilha sonora sensacional – ou ao menos o Nine Inch Nails tocando exatamente quando o Rei Leônidas acerta um chute no peito do mensageiro persa.
Todos esses são exemplos do bom uso da trilha sonora, um uso que não se faz mais, a não ser em alguns poucos filmes, muito esporadicamente. Aparentemente os diretores contraíram um certo medo de colocar as músicas para tocar em seus filmes. Procure em qualquer filme recente, mesmo os bons, vestígios da trilha sonora. Nenhum sinal. Quando encontramos a listagem das músicas que, supostamente, estão nos filmes, é para a venda do CD na Amazon.com. Resident Evil: Apocalypse (2004, dir. Alexander Witt), por exemplo, embora não seja um filme unânime em aceitação (particularmente, eu gosto muito), tem uma (suposta) trilha sonora ótima: “The End of Heartache”, Killswitch Engage; “Vermillion”, Slipknot; “Digging up Corpses”, DevilDriver. Bom, pode até ser que os mais sensíveis não apreciem tal trilha sonora, mas mesmo se esse for o caso, ela era excelente para o tema do filme e, no entanto, não podemos encontrá-la no filme – a não ser em raras cenas e, ainda assim, mal são deixadas tocar.
Por que a trilha sonora se tornou persona non grata nos próprios filmes de que deveria fazer parte? Por quê? Por quê, Deus, eu me pergunto?
Atribuo isso a um desejo dos diretores modernos de controlar cada parte de filme, milimetricamente, fazendo um microgerenciamento de toda a produção de seu filme. Mesmo em partes em que o diretor não tem o menor conhecimento, como no caso das trilhas sonoras, o diretor pretende se imiscuir. Querem ser onipresentes, e não meramente se focarem naquilo que devem fazer, a saber, dirigir. Fazer com que o filme seja harmônico no todo, pedir a cada especialista em cada área para executar sua idéia e não tentar pô-las em prática todas por si próprios. Diretores não devem criar música, não devem criar os sons que fazem ambientação de seus filmes. De fato, são eles que devem mostrar os caminhos nos quais, digamos, o diretor de som deve agir. Mas isso é muito diferente de ele próprio definir o tipo de trilha que figurará em seu filme.
Existe também um culto pernicioso à originalidade. A originalidade deve ser perseguida a qualquer custo, tudo tem que inovar e revolucionar. É claro que isso é uma bobagem. Equivaleria a dizer que nada do que foi produzido no passado tem valor ou que, se tiver, o tem somente porque suas características não são mais usadas no presente. Em Donnie Darko, o propósito de Richard Kelly com aquelas músicas era fazer as pessoas relembrarem uma época, os anos 80. O filme, que é ótimo, não seria a mesma coisa sem elas. Não faria o menor sentido pretender originalidade nesse contexto: os anos 80 foram uma época de que todos se lembram, por que querer se exaltar mais do que exaltar o tempo do filme? Ele deveria fazer uma trilha original e não tocar Echo and the Bunnymen e Joy Division (embora eu confesse que “Love Will Tear Us Apart Again” não é a coisa que eu mais gosto de ouvir; digamos que não é muito animadora) e, assim, deixar de fazer as referências que tornam o filme o que é? Ele se sobressairia mais com isso? Dificilmente.
Psicose (Psycho, 1960) tinha uma trilha original, mas ela não foi feita aos caprichos do diretor. Hitchcock não disse qual música queria e de que tipo específico queria: ele deixou isso para quem entendia do assunto. O que ele pediu somente foi algo que tivesse um clímax. E assim foi feito. E hoje em dia todos lembram da trilha sonora de Psicose; original, mas não sujeita à tirania do diretor.
Essa obsessão com a originalidade é verdadeiramente irônica quando vemos diretores como Quentin Tarantino e Brian De Palma, que não se podem dizer que sejam exatamente “originais”, serem aclamados tanto por público e crítica como excelentes diretores. De fato são. O fato de utilizarem elementos da cultura pop não os diminui. Pelo contrário, o fato de serem capazes de manejar vários elementos diferentes, os quais não criaram, os torna talentosos. Antigamente, se costumava freqüentemente ver na crítica a De Palma a acusação de que ele apenas roubava características dos outros diretores. Hoje, dificilmente se vê esse tipo de crítica. A obsessão com a originalidade deve desaparecer da direção de cinema da mesma forma que desapareceu a obsessão com a originalidade da crítica a Brian De Palma.
Outra reclamação que tenho que fazer é em relação à esmagadora preponderância dos efeitos sonoros sobre as músicas nos filmes. Entendo que filmes mais sombrios requeiram em maior parte efeitos sonoros que criem um determinado tipo de clima, e que uma música cantada poderia, talvez, quebrar o clima pretendido. Mas grande parte do que se faz com as músicas das trilhas sonoras nos filmes de hoje em dia é simplesmente cortá-las de forma a parecerem efeitos sonoros. Não é permitido nem que a voz da música apareça no filme, há um certo pudor. Até mesmo em filmes alternativos, como Magnolia (1999, dir. Paul Thomas Anderson), pode-se notar essa limitação, embora haja momentos em que os próprios personagens cantem músicas. E estamos falando de Magnolia, um filme em que chovem sapos. Esperávamos também mais ousadia nesse ponto.
Pode ser também que essa aversão às trilhas sonoras a que tenho aludido durante todo o texto se deva a uma aversão geral aos musicais, que entraram em decadência por uns quarenta anos até ser mais ou menos ressuscitado por Moulin Rouge e Chicago recentemente, que fizeram com que a própria presença de músicas nos filmes fosse relegada a um plano secundário. Musicais foram pesadamente criticados por falta de realismo, por infantilidade ou inocência, por superficialidade, etc. Esse tipo de crítica pode ter ao menos resvalado na própria edição das soundtracks dos filmes, que passaram a ter um papel muito menor nos filmes – muito abaixo do ideal eu diria. É claro que essas críticas aos musicais são infundadas e a ojeriza das últimas quatro décadas aos musicais pode ser considerada, no mínimo, infantil. Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961, dir. Jerome Robbins e Robert Wise), por exemplo, possui tanto efeitos sonoros quanto músicas geniais. Elas acompanham cada clima, cada ponto do filme, mudam de acordo com o humor dos personagens. Eram lentas quando deviam e rápidas quando necessário. E, quando a situação exigiu, a trilha também teve elementos rápidos e lentos, como a música “Tonight”, a qual faz essa mescla. Em suma, se estou certo em relação à negligência quanto à trilha sonora por causa das críticas em geral ao gênero musical, esse é um caso de pura e simples ignorância. Os musicais têm excelentes características que deveriam ser melhor apreaciadas pelos filmes de hoje em dia. Principalmente quanto a deixar que as letras sejam cantadas nos filmes. Não dói.

14 comentários:

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